Seja otimista!
Pense positivo!
Vai dar tudo certo, você vai ver!
Com certeza você já disse essas frases ou ouviu alguém dizê-las. São frases ditas para um indivíduo que demonstra ansiedade e insegurança diante de uma determinada situação, em que há expectativa de êxito, seja no campo da vida sentimental ou profissional.
Podemos dizer que a postura de afirmação, de que devemos pensar positivamente para que as coisas saiam como queremos é uma postura cultural e universal. Em qualquer parte do mundo o otimismo é considerado virtude e o pensamento pessimista seria algo ruim ou até mesmo um pensamento doente. Querem tratar os pessimistas em psicólogos ou psicanalistas.
Para defender a idéia de que o pessimismo pode ser colocado de forma diferente da qual estamos acostumados a enquadrá-lo em nosso dia-dia, recorro a dois grandes nomes do mundo da filosofia, Lucius Annaeus Sêneca (Corduba, Hespânia 4 a.C. - 65 d.C.) e Arthur Schopenhauer (Dazing, Alemanha 1788-1860). Apesar de serem figuras de tempos tão distintos e distantes, ambos os filósofos defendiam um tipo diferente de representação do pessimismo do qual temos em nosso cotidiano. Schopenhauer chega a ser conhecido como o pai do pensamento pessimista e pela possível incompreensão popular de sua filosofia em nossos tempos seria facilmente desprestigiado ou taxado como louco. Sêneca e Schopenhauer trabalharam uma possibilidade de antagonismo no sentido que o pessimismo possa ser, na verdade, a busca da lucidez e da fuga do estado de decepção.
A exigência de nos colocarmos na obrigação de pensar positivamente é tão latente que até adquiriu aspectos supersticiosos, ou seja, o pensamento negativo atrai os resultados negativos gerando um sentimento de derrota e insatisfação. O fato de pensarmos sempre de maneira positiva não nos garante que tudo dará certo.
O otimismo condena-nos a sermos sempre surpreendidos todas as vezes que algo dá errado em nossas vidas; tira-nos a percepção de que a vida nem sempre é de vitória e de satisfação e nos faz perceber isso da maneira mais dolorosa possível. E diante desta situação resta aquela famosa frase: “Deus quis que fosse assim”.
E se nos reeducássemos adotando uma nova postura diante dessa discussão? E se imaginássemos que o pessimismo pode ganhar outras dimensões?
Pense num homem, que diante de suas expectativas se fundamentasse de forma pessimista, ou seja, que deixasse de lado a idéia do êxito, mas pensasse na possibilidade do fracasso. Diante deste novo ângulo na forma de encarar o pessimismo, este homem só será surpreendido por boas notícias, as frustrações não o afligiriam, pois, a possibilidade delas virem a se tornar fato já foram cogitadas. Seria essa a receita mais curta para se alcançar a felicidade? Tenho certeza que não, até porque os pensadores dessa teoria não tiveram uma vida que possamos denominar como feliz.
Este texto não teve a intenção de apresentar fórmulas ou de dizer como se deve pensar ou agir, até por que não faria sentido Sêneca e Schopenhauer criticar uma forma de pensar da qual é, culturalmente, apresentada como verdade e impor outro modelo a ser seguido também como verdade. O objetivo foi o de lançar uma alternativa para que possamos desconstruir uma verdade absoluta sobre a visão que a sociedade tem sobre o pessimismo.
Diante da idéia apresentada, acredito que exista sim o pessimista no sentido da palavra, que faça pensar na possibilidade das coisas resultarem negativamente e ao invés de lutar para alcançar seus objetivos, simplesmente desistem, se abdicam da possibilidade do êxito, esse eu intitulo de pessimista negativista, que, logicamente, não é a quem me referi neste texto e nem de pleunasmo, por mais que possa parecer.
Marcelo A.O.J. Leite.