sábado, 25 de julho de 2009

O Pessimismo



Seja otimista!
Pense positivo!
Vai dar tudo certo, você vai ver!
Com certeza você já disse essas frases ou ouviu alguém dizê-las. São frases ditas para um indivíduo que demonstra ansiedade e insegurança diante de uma determinada situação, em que há expectativa de êxito, seja no campo da vida sentimental ou profissional.
Podemos dizer que a postura de afirmação, de que devemos pensar positivamente para que as coisas saiam como queremos é uma postura cultural e universal. Em qualquer parte do mundo o otimismo é considerado virtude e o pensamento pessimista seria algo ruim ou até mesmo um pensamento doente. Querem tratar os pessimistas em psicólogos ou psicanalistas.
Para defender a idéia de que o pessimismo pode ser colocado de forma diferente da qual estamos acostumados a enquadrá-lo em nosso dia-dia, recorro a dois grandes nomes do mundo da filosofia, Lucius Annaeus Sêneca (Corduba, Hespânia 4 a.C. - 65 d.C.) e Arthur Schopenhauer (Dazing, Alemanha 1788-1860). Apesar de serem figuras de tempos tão distintos e distantes, ambos os filósofos defendiam um tipo diferente de representação do pessimismo do qual temos em nosso cotidiano. Schopenhauer chega a ser conhecido como o pai do pensamento pessimista e pela possível incompreensão popular de sua filosofia em nossos tempos seria facilmente desprestigiado ou taxado como louco. Sêneca e Schopenhauer trabalharam uma possibilidade de antagonismo no sentido que o pessimismo possa ser, na verdade, a busca da lucidez e da fuga do estado de decepção.
A exigência de nos colocarmos na obrigação de pensar positivamente é tão latente que até adquiriu aspectos supersticiosos, ou seja, o pensamento negativo atrai os resultados negativos gerando um sentimento de derrota e insatisfação. O fato de pensarmos sempre de maneira positiva não nos garante que tudo dará certo.
O otimismo condena-nos a sermos sempre surpreendidos todas as vezes que algo dá errado em nossas vidas; tira-nos a percepção de que a vida nem sempre é de vitória e de satisfação e nos faz perceber isso da maneira mais dolorosa possível. E diante desta situação resta aquela famosa frase: “Deus quis que fosse assim”.
E se nos reeducássemos adotando uma nova postura diante dessa discussão? E se imaginássemos que o pessimismo pode ganhar outras dimensões?
Pense num homem, que diante de suas expectativas se fundamentasse de forma pessimista, ou seja, que deixasse de lado a idéia do êxito, mas pensasse na possibilidade do fracasso. Diante deste novo ângulo na forma de encarar o pessimismo, este homem só será surpreendido por boas notícias, as frustrações não o afligiriam, pois, a possibilidade delas virem a se tornar fato já foram cogitadas. Seria essa a receita mais curta para se alcançar a felicidade? Tenho certeza que não, até porque os pensadores dessa teoria não tiveram uma vida que possamos denominar como feliz.
Este texto não teve a intenção de apresentar fórmulas ou de dizer como se deve pensar ou agir, até por que não faria sentido Sêneca e Schopenhauer criticar uma forma de pensar da qual é, culturalmente, apresentada como verdade e impor outro modelo a ser seguido também como verdade. O objetivo foi o de lançar uma alternativa para que possamos desconstruir uma verdade absoluta sobre a visão que a sociedade tem sobre o pessimismo.
Diante da idéia apresentada, acredito que exista sim o pessimista no sentido da palavra, que faça pensar na possibilidade das coisas resultarem negativamente e ao invés de lutar para alcançar seus objetivos, simplesmente desistem, se abdicam da possibilidade do êxito, esse eu intitulo de pessimista negativista, que, logicamente, não é a quem me referi neste texto e nem de pleunasmo, por mais que possa parecer.

Marcelo A.O.J. Leite.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Os Sonhos não devem durar mais que uma Noite.


Um homem trabalhava 30 anos em uma fábrica.
Depois do seu horário ele saia todos os dias para encontrar com os amigos, com mulheres, ir ao cinema...
Ia para casa e dormia, no dia seguinte ia trabalhar.
Um dia ele faz tudo isso, chega em casa, dorme e tem um sonho.
Era uma nebulosa, não conseguiu perceber o que era.
Acordou, foi trabalhar, fez tudo o que tinha que fazer, voltou para casa e dormiu.
Teve o mesmo sonho e a nebulosa transformou-se em um coração, a formação de um peito juvenil.
Ele acordou, foi trabalhar e já não conversou tanto quando saiu do emprego para ir para casa, dormiu e sonhou o mesmo sonho
Então apareceu um peito de um rapaz, um braço de um rapaz, uma perna e ele acordou.
Foi trabalhar, saiu correndo do trabalho para chegar logo em casa, então dormiu e o sonho continuava.
Apareceu o sexo do rapaz, a cara do rapaz, acordou, foi trabalhar, pediu para sair mais cedo, deixara de ser um grande funcionário e foi correndo para casa, dormiu e sonhou novamente.
Então o garoto no sonho começou a falar.
Acordou, foi trabalhar, pediu para trabalhar só de manhã para poder dormir e sonhar o resto da tarde.
No sonho, começou a conversar com o rapaz, mostrar a cidade para ele, acordou.
Foi na fábrica e pediu demissão apenas para dormir e sonhar.
E conversava com o rapaz, mostrava outras coisas para ele, as mulheres...
Até que um dia o rapaz disse:
-Eu tenho uma namorada, você sabe, eu fui a casa dos pais dela ontem e eles me aceitaram como noivo dela, eles aceitaram que casasse com ela, mas eles só querem uma coisa, eles querem conhecer minha família.Você pode por favor dizer quem é minha família para eu falar para eles?
Então o sonhador pensou - Para eu dizer quem é a família dele vou ter que acordar e procurar a minha.
Então ele acordou e começou a procurar, procurar, procurar, quando de repente, ele se deu conta, que também fazia parte do sonho de um outro.

Jorge Luis Borges.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Sinto vergonha de mim...

Dizer mais o que? O vídeo já disse tudo. Poema de Ruy Barbosa e Cleide Canton.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Valores Positivos.



Em 5 de Maio, o jornal “The Guardian” deu uma notícia que aqui no Brasil, passou desapercebida ou quase. O Home Office (equivalente ao Ministério da Justiça) do Reino Unido publicou uma lista de 16 pessoas que seriam barradas caso tentassem entrar no país. Oito são islamistas pregadores de ódio étnico e terrorismo –nenhuma surpresa. Mas eis que eles aparecem em com companhia de:
Stephen Donald Black, cidadão dos EUA, grande sacerdote do Ku Kux Klan, fundador de “Stormfront”, um fórum on-line para quem defende a supremacia da raça branca;
Eric Gliebe, cidadão dos EUA, neonazista;
Mike Guzovsky, cidadão dos EUA e de Israel, grande admirador da Baruch Goldstein (o qual, 1994, em Hebron,matou 29 muçulmanos que estava rezando em uma mesquita);
Fred Waldron Phelps, pastor batista, e sua filha Shirlei, cidadãos dos EUA, pregadores de uma cruzada contra homossexuais (para eles, a AIDS, as guerras e as catástrofes naturais são punições divinas pela permissividade sexual de nossos tempos);
Artur Ryno e Pavel Skachevsky, cidadão russos, skinheads, conhecidos por filmarem ataques contra minorias étnicas (imigrantes, armênios etc.) e disponibilizar os filmes na internet para o “prazer” de seus acólitos (ambos atualmente na cadeia pelo assassinato de duas dezenas de pessoas);
Michael Savage, cidadão dos EUA, radialista que passa seu tempo no ar fomentando raiva étnica, religiosa e política (Savage ficou na minha memória por defender a idéia de que o autismo é manha de criança que não levou todos os tabefes que merecia).
A própria ministra do Interior, Jacqui Smith, explicou a razão pela qual decidiu publicar a lista dos indesejáveis: “Se você não pode viver segundo as regras, os padrões e os valores que contam em nossa vida, nós excluiremos de nosso país e, mais importante, tornaremos público o nome dos que barramos”.
Adoraria assistir a um debate entre Jacqui Smith e um juiz da Corte Suprema dos EUA, mesmo conservador, diria que não podemos nunca persefuir uma opinião ou uma fé. Eventualmente, podemos perseguir os atos criminosos que essa opinião estimula, mas não a opinião como tal, visto que a lei nos governa garante a liberdade de pensar e de se expressar.
Tudo bem, mas a decisão de Jacqui Smith não é tanto jurídica quanto moral: a liberdade de pensar e de se expressar, bem antes de ser uma lei, é um valor positivo de nossa cultura, ou seja, um valor que devemos defender assim como defenderíamos a nossa fé ou nossa tradição se vivêssemos numa sociedade tradicional e religiosa.
Na hipotética posição do juiz, a modernidade ocidental poderia ser uma sociedade sem valores positivos; ela seria regida apenas por leis, que, no caso, permitem que cada um pregue o que quiser –inclusive que ele pregue contra as leis que governam nossa consciência. Na posição de Smith, contrariamente ao que afirmam os apóstolos de nossa “decadência moral”, a modernidade é uma sociedade rica em valores positivos. Nela, o respeito por esses valores é condição básica para ser cidadão; e o desrespeito é a marca do inimigo –assim como, numa sociedade tradicional, é inimigo quem pensa e professa de maneira diferente da tribo.
Outra diferença entre as duas posições é que, no primeiro caso, é quase impossível reconhecer adversários; um mito de paz universal surge como colorário do princípio legal pelo qual toda diferença é permitida. Nessa posição, somos avessos a conflitos e, eventualmente, combatentes envergonhados: combater contra quem, se, por lei, todos podem ser “dos nossos”?
No segundo caso, é fácil responder a essa pergunta: trata-se se combater contra quem, de fato, não é “dos nossos”, ou seja, contra quem é inimigo dos nossos valores.
Como me situo? Pois é, muitos anos atrás, militei no favor da idéia que os partidos com vocação totalitária devem ser proibidos numa democracia que eles tem o intento de abolir.
A lista de Jacqui Smith me tocou. Ela mostra que, para reconhecer valores que valem a pena defender, não é necessário se identificar com um grupo ou uma facção: nossa cultura basta e sobra.
Além disso, a litura da lista me fez pensar em minha tia Rosália, que sempre me dizia: ”A inteligência humana tem limites; a estupidez não tem”.

Contardo Calligaris – Folha de São Paulo – 14/05/2009.

Trecho de: "O Homem Cordial".



No “homem cordial”, a vida em sociedade é, de certo modo, uma verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo, em apoiar-se sobre si próprio em todas as circunstâncias da existência. Sua maneira de expansão para com os outros reduz o indivíduo, cada vez mais, à parcela social, periférica,que no brasileiro- como o bom americano-tende a ser a que mais importa. Ela antes é um viver nos outros.Foi a esse tipo de humano que se dirigiu Nietzsche,quando disse: “Vosso mau amor de voz mesmos vos faz do isolamento um cativeiro”.

Sérgio Buarque de Holanda.

Pensando o Trabalhador no Brasil.






Para entender a forma de pensar do trabalhador brasileiro vou procurar mostrar um pouco da nossa formação social, para isso, busquei informações no livro “Raízes do Brasil”, obra que considero leitura obrigatória para todo brasileiro, escrita por Sérgio Buarque de Holanda um dos grandes nomes da historiografia brasileira.
Por influência de conceitos filosóficos de Marx Weber que caracteriza a sociedade como pluralidade de tipos (grupos), diferentemente de Karl Marx que destaca dois grupos na sociedade, a burguesia e o proletariado, Sérgio Buarque usa da dicotomia sobre a pluralidade social apresentada, ou seja, trabalha pares de tipos dentro dos grupos sociais, como por exemplo, trabalho e aventura, método e capricho, rural e urbano, burocracia e caudilhismo, norma impessoal e impulso afetivo, esses pares apresentam nossa estrutura social e política.
Diante desta posição dicotômica dou destaque ao capítulo “Trabalho e Aventura”.
No século XVI boa parte da população portuguesa ainda mantinha tradições medievais, seja no modo de agir ou de pensar, um exemplo claro disso era o respeito da tradição de hierarquia onde os camponeses e nobres casavam sempre com pessoas do mesmo grupo social, talvez, por sofrer ainda forte influência católica. Outros países como Holanda e Alemanha que absorveram o capitalismo movido pelo protestantismo, permitiam maior mobilidade econômica e social.
A partir deste quadro social, destacamos o trabalhador e o aventureiro.
O trabalhador tem em seu pensamento que o trabalho realmente o dignifica, não foge do serviço pesado, apesar, de não haver possibilidade de melhora em sua condição econômica.
O aventureiro era seu oposto, tinha verdadeira repulsa ao trabalho e só fazia qualquer tipo de esforço quando tinha perspectiva de que o resultado seria imediato, seu pensamento era de buscar sempre o caminho mais rápido de alcançar seus objetivos e certamente para ele o trabalho era o mais lento. É justamente esse perfil do português que vai participar das conquistas ultramarinas, inclusive do processo de colonização do Brasil.
O número de riquezas encontradas aqui, lhe deu a idéia de rápida ascensão econômica, obviamente que essas riquezas não estavam tão fáceis de serem extraídas, pois, precisavam de mão-de-obra e devido a sua indisposição para o trabalho e o baixo número da população da metrópole impedia um grande número de imigrados, a escravidão tornou-se então a solução, primeiramente dos indígenas e depois a importação de africanos, afinal, alguém tinha que trabalhar.
Desse espírito aventureiro herdamos o imediatismo, o povo brasileiro tem como verdade absoluta que as coisas demoram a acontecer, tendem a escolher o caminho mais rápido e não o mais trabalhoso, “estudar demora muito e eu preciso comprar um carro amanhã...”, ou a frase que escutei outro dia de um amigo, “me considero um vagabundo não praticante”, demonstra o desapego e a alusão ao trabalho, levando seu ofício puramente como obrigação.
É certo que em tempos modernos podemos culpar outros fatores que façam com que as pessoas tenham esse pensamento, transportes lotados, distância, salários baixos e baixa qualidade de vida.
Sabemos que o ano de 1888 marca o fim de muitos anos de trabalho compulsório no Brasil, fomos os últimos a abolir a escravidão no mundo. A verdade é que as nossas elites nunca deixaram de utilizar este tipo de trabalho, a escravidão ainda se propaga, apenas mudou de aspecto, e denomina-se “escravidão moderna”, uma escravidão psicológica, que mantém encarcerado o poder de reflexão do trabalhador e o isola em um sistema que o impossibilita de enxergar a realidade que o cerca, fazendo nascer-lhe um sentimento de “ta ruim, mas tá bom”, “pinga, mas, não falta”. Apesar de parecer antagônico ao sentimento de não gostar do trabalho por não levá-lo a lugar algum, os dois pontos acabam se tornando uma realidade, e antes que eu me esqueça o castigo a base de chicotadas ainda vigora, mas agora em forma de salário mínimo.