Em uma era tão
dinâmica, da qual, o avanço tecnológico multiplicou em muitas vezes a
velocidade da informação, possibilitou acesso a um contingente que jamais havia
sido possível antes. Este fato, apesar das suspeitas levantadas aos meios de
comunicação, feitas por críticos destes, sobretudo, ao seu viés elitista, cada
indivíduo nunca teve tanta oportunidade de se perceber inserido em um contexto
mais amplo que sua rua, seu bairro, sua família e trabalho.
Aviões se
chocando contra prédios monumentais, casais jogando criança da janela de
apartamento, compra de votos de parlamentares, o time venceu o campeonato deste
ano, declínio da inflação, queda nos índices de desemprego. Muitas dessas informações
nos geram a sensação de segurança ou insegurança, justiça ou impunidade,
felicidade e infelicidade, enfim, melhora ou piora na qualidade de nossas
vidas. Sensações essas que uma vez sentidas serão muitas vezes atribuídas a
fracassos ou sucessos de governos ou governantes. O passar dos meses, anos e
até décadas registrará a mudança dessas sensações e juntamente gerando
recordações de um tempo que já foi. Um tempo que ficará marcado como bom ou
mau.
Seguindo esta
trajetória, imperceptivelmente somos submetidos aos riscos de confundirmos a
nossa memória como história.
A história não
se limita as nossas memórias, a história é a ciência que estuda as ações
humanas e seu desenvolvimento no tempo, analisando processos, personagens,
fatos, para poder compreender melhor as civilizações em seus cotidianos,
conflitos, culturas, economias e processos. Para construirmos um conhecimento
histórico se faz necessário a utilização da análise de diversas fontes,
aplicação de métodos de pesquisa, critérios dos quais viabilizem a construção
de uma perspectiva, sem a pretensão de alcançar a verdade, porém, chegar o mais
perto possível dela.
Dentro da
política, a memória social, baseada nas sensações ou pouca reflexão sobre os
fatos abre espaço ao surgimento de uma leitura maniqueísta, ou seja, a formação
dos heróis nacionais. No Brasil, muitos exemplos foram registrados na história:
Getúlio Vargas “o pai dos pobres”, Jânio Quadros “Varredor da corrupção”,
Collor de Mello “caçador de marajás” e até mesmo anti-heróis: Paulo Maluf com o
clássico “rouba mas faz”.
O fato é que
estes governos, são muitas vezes entendidos por uma quantidade significativa da
população como bons ou muito bons, outras vezes nem tanto, gerando nela um
sentimento de nostalgia após suas gestões. Para o historiador Peter Burke isso
ocorre porque normalmente essas gestões foram antecedidas por outras piores e
posteriorizados por governos tanto quanto ruins ou até mais. Sendo assim,
políticas populistas e assistencialistas acabam agradando, fortalecendo a “boa
impressão” de seus governos, distorcendo a percepção de tais processos vivenciados
dando caminhos tortuosos para a formação da memória social.
Por tanto, a
memória não pode ser única fonte de pesquisa para historiadores. Ao mesmo
tempo, não tenho como intuito desvalorizar importância da memória, ela não pode
ser descartada por ter sido vítima de desenganos. Mesmo expostas a equívocos,
podem dizer muito sobre como o passado foi absorvido pelas gerações presentes
aos acontecimentos.
A questão
memória-história é dialética, pois a história é interferida pela memória como
ferramenta de pesquisa, como possibilidade, e a história é construtora ou
reparadora de sua condição.