terça-feira, 8 de outubro de 2013

História ou memória?



Em uma era tão dinâmica, da qual, o avanço tecnológico multiplicou em muitas vezes a velocidade da informação, possibilitou acesso a um contingente que jamais havia sido possível antes. Este fato, apesar das suspeitas levantadas aos meios de comunicação, feitas por críticos destes, sobretudo, ao seu viés elitista, cada indivíduo nunca teve tanta oportunidade de se perceber inserido em um contexto mais amplo que sua rua, seu bairro, sua família e trabalho.
Aviões se chocando contra prédios monumentais, casais jogando criança da janela de apartamento, compra de votos de parlamentares, o time venceu o campeonato deste ano, declínio da inflação, queda nos índices de desemprego. Muitas dessas informações nos geram a sensação de segurança ou insegurança, justiça ou impunidade, felicidade e infelicidade, enfim, melhora ou piora na qualidade de nossas vidas. Sensações essas que uma vez sentidas serão muitas vezes atribuídas a fracassos ou sucessos de governos ou governantes. O passar dos meses, anos e até décadas registrará a mudança dessas sensações e juntamente gerando recordações de um tempo que já foi. Um tempo que ficará marcado como bom ou mau.
Seguindo esta trajetória, imperceptivelmente somos submetidos aos riscos de confundirmos a nossa memória como história. 
A história não se limita as nossas memórias, a história é a ciência que estuda as ações humanas e seu desenvolvimento no tempo, analisando processos, personagens, fatos, para poder compreender melhor as civilizações em seus cotidianos, conflitos, culturas, economias e processos. Para construirmos um conhecimento histórico se faz necessário a utilização da análise de diversas fontes, aplicação de métodos de pesquisa, critérios dos quais viabilizem a construção de uma perspectiva, sem a pretensão de alcançar a verdade, porém, chegar o mais perto possível dela.
Dentro da política, a memória social, baseada nas sensações ou pouca reflexão sobre os fatos abre espaço ao surgimento de uma leitura maniqueísta, ou seja, a formação dos heróis nacionais. No Brasil, muitos exemplos foram registrados na história: Getúlio Vargas “o pai dos pobres”, Jânio Quadros “Varredor da corrupção”, Collor de Mello “caçador de marajás” e até mesmo anti-heróis: Paulo Maluf com o clássico “rouba mas faz”.
O fato é que estes governos, são muitas vezes entendidos por uma quantidade significativa da população como bons ou muito bons, outras vezes nem tanto, gerando nela um sentimento de nostalgia após suas gestões. Para o historiador Peter Burke isso ocorre porque normalmente essas gestões foram antecedidas por outras piores e posteriorizados por governos tanto quanto ruins ou até mais. Sendo assim, políticas populistas e assistencialistas acabam agradando, fortalecendo a “boa impressão” de seus governos, distorcendo a percepção de tais processos vivenciados dando caminhos tortuosos para a formação da memória social.
Por tanto, a memória não pode ser única fonte de pesquisa para historiadores. Ao mesmo tempo, não tenho como intuito desvalorizar importância da memória, ela não pode ser descartada por ter sido vítima de desenganos. Mesmo expostas a equívocos, podem dizer muito sobre como o passado foi absorvido pelas gerações presentes aos acontecimentos.
A questão memória-história é dialética, pois a história é interferida pela memória como ferramenta de pesquisa, como possibilidade, e a história é construtora ou reparadora de sua condição.