quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Professor Luiz Renato Martins apoia a ocupação na USP

Ocupação patética, Reação tenebrosa.



Ao que tudo indica , a ocupação da reitoria da USP foi de fato patrocinada  por grupo de aloprados, que atropelou o rito das assembléias realizadas até então e, num ato de desespero (calculado?), fez fez rolar morro a baixo uma pedra que, aos trancos, deveria ser endereçada para pontos mais altos da discussão.


Uma vez que essa pedra rolou, como se viu, tudo desabou. Absolutamente tudo, o que se nota pela declaração do ministro-candidato-a-prefeito (algo como: bater em viciado pode, em estudante não) e do governador (vamos dar aula de democracia para esses safadinhos), passando pela atitude da própria polícia ( tão aplaudida quanto o caveirão do Bope que arrebenta as favelas), de cinegrafistas (ávidos por flagrar  os “marginais” de camiseta GAP) e de muitos, masmuitos mesmo, cidadãos que só esperavam o ataque aéreo dos japoneses em Pearl Harbor para, em nome da legalidade, arremessarem suas bombas atômicas sobre Hiroshima. 


O episódio, em si isolado, é sintomático em vários aspectos. Primeiro porque mostra que, como outros temas-tabu (questão agrária, aborto...), a discussão sobre a rebeldia estudantil é hoje um convite para o enterro do bom senso. O episódio foi, em todos os seus atos, uma demonstração do que o filósofo e professor da USP Vladimir Safatle chama de pensamento binário do debate nacional – segundo o qual a mente humana, como computadores pré-programados, só suporta a composição “zero” ou “um”. Ou seja: estamos condicionados a um debate que só serve para dividir os argumentos em “a favor” ou “contra”, “aliado” ou “inimigo”.


De uma lado, uma minoria de estudantes que, sim, usa a universidade para o que há de pior na vida pública, como politicagem e ignorância sobre noções básicas de convivência; e que, queira ela ou não, atrai uma nuvem de antipatia dentro da comunidade acadêmica e da opinião pública que contamina qualquer avanço ou reividicação séria, legítima e bem costurada pelos estudantes de fato.

Do outro, uma parcela da opinião pública que jamais suportou qualquer sinal de organização política – seja estudantil, sindical, partidária – e que viu no episódio um pretexto para colocar as garras de fora, cuspir sua raiva e taxar os estudantes, qualquer um que fosse contra a presença da PM no campus, de baderneiro, vagabundo, privilegiado, filhinho de papai, maconheiro e inútil. Porque bater em estudante com o argumento de que não trabalha e, sob as asas dos pais, ainda não sabe como a vida prática é dura é o mais fácil e covarde dos argumentos (como se só os pais de família, que pagam impostos e vão à missa, reunissem as condições necessárias para se graduar em cidadania para reclamar da vida).

A ocupação da reitoria da maior universidade do País deu munição paa que boa parte da opinião pública (inclusive estudantes) testemunhasse, graças à transmissão ao vivo das emissoras, a legitimação de seus desprezos contra estudantes que, diferentemente deles, ainda ousam apontam o dedo para o alto e dizer que alguma coisa está errada.

Originários de uma multidão crescida sob o mito de self made man (“minhas conquistas são fruto do meu próprio trabalho, e o Estado muito ajuda quando não me atrapalha”), muitos usaram canais de manifestação, como as redes sociais, para despejar os argumentos mais covardes contra todo (todo mesmo) universo estudantil, sobretudo o sistema público de ensino, do “bem feito” ao “viva a legalidade”. Como se os ritos democráticos tivessem sido respeitados desde o começo, quando o então governador José Serra (PSDB)  decidiu justamente desprezar a vontade da comunidade acadêmica e nomear Jão Grandino Rodas, o segundo candidato mais votado, para o cargo. Como se fosse legítimo, também, determinar, de cima para baixo, que a PM transferisse para o campus o seu modus operandi. Hoje a bronca, gota d’água de toda a crise, foi por não se poder fumar maconha em paz – sim, é uma discussão menor num país de tantos problemas; sim, pode revelar um desnecessário privilégio a um grupo que não é inimputável; mas sim (e é bom lembrar), existe, e não só na comunidade estudantil, uma questão em torno da descriminalização da droga, que é aceita inclusive em marchas na Paulista.

Mas, em meio às manifestações contrárias aos invasores (que, sim, sabem o que fazem e não poderia descumprir decisão judicial), o que mais estranha não é ver senhores engravatados, os tais cidadãos que trabalham e pagam impostos, pedindo punição exemplar aos “aloprados”. Estes estão preocupados demais em manter o estado das coisas exatamente como está: assim como a polícia é útil na saída da favela, éútil também que ela tome conta de qualquer, mas qualquer mesmo, insurgência estudantil. Para a reitoria, ogovernador   os empresários que querem se apropriar  do espaço público para obter lucros  privados, parece mais que óbvio o interesse em deslegitimar não só as ocupações estapafúrdia, como foi o caso, mas também esmagar a vóz, quçá para sempre, do movimento estudantil.(“Já pensou se eles, como os sem-terra, em vez de se dividir, resolvesem se unir para ir às ruas, pedir condições melhores de vida e de trabalho e, mais tarde, entram no mercado do trabalho já contaminados com ideias subversivas, entre elas a de que a vida não se resume a dinheiro?”)

O que é estranho dessas reações todas de ojerizar aos uspianos é que elas partem de quem muito cedo na vida já se aproximou do discurso dos pais, criados num clima de “Brasil: Ame-o ou Deixe-o” herdado o regime militar; e que, portanto, vêem na obediência, no não-engajamento, na docilidade, na adaptação a um mundo já pronto o único caminho possível para salvar as próprias peles em um  jogo arbitrário de saída. Tenho, para isso, uma tese de botequim: a de que minha geração, nascida em meados dos anos 80 e criada nos anos 90, foi o maior baby boom de bundões que o Brasil já testemunhou; crescemos com meo da violência, das doenças sexualmente transmissíveis e do outro (do faveldo ao muculmano) e, por este motivo, decidimos nos enclausurar em bolsões de segurança (o shopping, a escola particular e os condomínios fechados) para poder nascer e morrer em paz, sem grandes objetivos na vida a não ser aceitá-la. Por isso aceitamos abrir mão de uma relativa liberdade (porque ela nunca é absoluta) para viver em segurança. E se amanhã algum policial resolver matar algum suspeito (ela chama de “meliante”) entre uma aula e outra na FFLCH ou na FEA, paciência, bola pra frente. Faz parte do jogo. Em nome da segurança, aceitamos a diferença de forças em jogo: estudante, quando alopra, compra cerveja e depreda a reitoria; policial, quando alopra, atira. (Em tempo: nem todos os policiais abusam, como nem todos os estudantes invadem; mas a diferença dos estragos proporcionados entre os que, por lei, detêm o monopólio da violência e os que não o detêm é abissal.

O caso de um aluno da faculdade de ciências sociais – curso visto por parte da elite paulista como ponto de irradiação de tumulto tal qual uma ogiva de Mahmoud Ahmadinejad – exemplifica a situação criada com a simples presença da PM no campus:
Em menos de um ano, já foi abordado cinco vezes por policiais. Suspeito de quê não se sabe, e não está cientificamente provada se há perseguição pelo fato de ser negro, mas uma amiga dele, branca, relata: já ouviu de um policial que poderia ser liberada porque não tinha “perfil” de marginal.

Uns aceitam a situação. Outros, pelos métodos certos ou não, resolveram deixar claro que não aceitam. Tudo isso me leva a dizer que eu nutria uma simpatia, ainda que leve, levíssima, aos ingênuos invasores que erraram a hora pensando que fazia história _ até começarem a agredir os repórteres que estavam lá para ouvi-los. Mesmo assim, ainda parecem ser mais interessantes do que os coxinhas que, vestidos como pais, esquecem que um dia foram estudantes e que um dia também pensaram que poderia mudar o mundo. Hoje engolem lama, agradecendo quando lhe chutam as cabeças e dormem pensando ser coerentes aos seus princípios. Ou, como na música, “caminham para a morte pensando em vencer na vida”.

Critique-se o quanto quiser a partidarização de parte do movimento, mas são os estudantes os agentes de uma história que ainda somam coragem e disposição para se organizar e promover discussões e manifestações que, via de regra, apontam caminhos não observáveis por quem, a olhos nus, está atolado nas funções diárias da visão social do trabalho. O empregado tem medo da greve e de perder o emprego; o patrão tem medo de perder o lucro; o governador, o medo de perder o poder. Mas os estudantes estão, em tese, livres das amarras que os impediriam de simplesmente optar por outros caminhos. Isso não deveria ser vergonhoso, nem apontado como privilégio.

O fato é que o rótulo (e a imagem do invasor vestido GAP) pegou bem aos que tem alergia a organizações sociais. Legalidade, insegurança, hipocrisia, racismo, perseguição (ou mania de), erros táticos, partidarização, elitização do ensino, espetacularização da notícia, truculência, tensão... São muitos os ingredientes que fazem do confronto entre estudantes e reitoria/governo paulista um tema complexo, que não poderia jamais descambar para o Fla-Flu. Mas descambou, graças à ação desastrada de um grupo que, agora, se coloca como “perseguidos políticos” – e virou tema de piada, ou pólvora pura para um galão de gasolina reservado por quem nunca deu a mínima par ideais como coletividade, bom senso e democracia. 

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

8° Curso de História de São Paulo.

São Paulo de Todos os Credos Religiões e Práticas Religiosas.
                                      2011


Público-alvo


Totalmente gratuito, o curso é voltado para estudantes, professores, historiadores e demais interessados.

Data
O Curso será sempre ministrado as quintas-feiras de 18 de agosto a 27 de outubro de 2011.

Horário 
As aulas terão duas horas e meia de duração, acontecendo sempre no período da manhã, das 9h30min. às 12hs.

Local
Espaço Sociocultural - Teatro CIEE
Rua Tabapuã, n° 445, Itaim Bibi - São Paulo/SP.
Haverá estacionamento gratuito no local.

Programação


18/08 - A perda do protagonismo da religião católica em São Paulo - Flávio Pierucci (USP).


25/08 - O budismo e suas manifestações em São Paulo. - Frank Usark (PUC-SP).


01/09 - Religiões Afro-Brasileiras em São Paulo - Reginaldo Prandi (USP).


15/09 - Protestantes e Pentecostais "clássicos" em São Paulo (1865-1962). - Leonildo Silveira Campos (UMESP).


22/09 - Neopentecostalismo: o fest food da fé. - Edin Sued Abumanssur (PUC).


29/09 - O novo boom Kardecista - Bernardo Lewgoy (UFRGS).


06/10 - Feições e derivações da Renovação Carismática Católica. - André Ricardo de Souza (UFSCAR).


13/10 - Nova era e novas espiritualidades. - Silas Guerreiro (PUC-SP).


20/10 - São Paulo: uma metrópole religiosa. - Maria José Rosado (PUC-SP).


27/10 - As tribos urbanas juvenis paulistanas e suas religiões. - Alexandre de Almeida (Geint/CNPq).

Como participar
As inscrições são gratuitas e devem ser feitas por aula de interesse, individualmente e na semana de cada aula por meio do site:
www.cee.org.br/portal/eventos
Para mais informações ligue: (11) 30406541/6542.

sábado, 6 de agosto de 2011

A Revolta da Vacina.



                                            
A História nos aponta que entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras décadas do século XX, foi um período onde houveram diversas mudanças econômicas, sociais, políticas e culturais no Brasil.
Se, é clara a participação popular nas independências dos países latino-americanos em decorrência de verdadeiras guerras civis dentro de seus territórios, no Brasil passa por um processo diferente. Segundo a historiadora Emilia Viotti em seu texto, “Da Monarquia a República”, o Brasil, em seu processo de independência, teria ocorrido um golpe de estado proporcionado pela ala militar insatisfeita com os rumos que a monarquia dava ao país e o descaso com a qual se dava ao exército brasileiro. O período no qual durou a Primeira República ( 1889 – 1930), foi o momento em que se deu as transformações, e no decorrer dessas transformações é que vamos perceber a participação popular em momentos de revolta, efetivamente. A nova forma de organização política implantada no país levara o governo e o povo a diversos conflitos com proporções grandiosas, dos quais, seus desfechos sempre se concluíram fazendo valer os interesses das elites burguesas, como a Guerra de Canudos, Revolta da Chibata e a própria Revolta da Vacina.
Procuro aqui, tratar de um desses processos conflituosos dos quais o Brasil passou à custa de muito sangue em nome da “ordem e do progresso”. A Revolta da Vacina. 
Contexto do País até a Revolta da Vacina.
Partindo da abolição da escravidão em 1888, com assinatura da lei Áurea pela princesa Isabel que simplesmente abria as portas das senzalas, mas que não planejou nenhum projeto de inserção social a esses alforriados. Lançara sobre o país um desencadeamento de miséria. Ex- escravos alforriados, sem nunca ter tido acesso a escola, formação profissional e, além de sofrer a com exclusão social e racial que os dispensavam de qualquer reconhecimento de cidadania, são lançados as ruas em busca de sua sobrevivência.
Em seguida, podemos relatar o processo de republicanização do Brasil seguido de diversas crises econômicas que assolaram o povo. José Murilo de Carvalho, em “ A formação das Almas” afirma que este período de nossa história foi influenciado por diversas linhas de pensamentos políticos europeus; o jacobinismo francês, o positivismo de comte, o liberalismo francês e norte-americano. A atuação desses pensamentos  agindo de uma só vez foi observada como “verdadeiro samba do crioulo doido”(Carvalho,1998). Essas linhas de pensamentos se fizeram de certa forma todo o período da República Velha.
A cada fracasso de governos constituídos, tínhamos a disputa do poder por vertentes políticas baseadas nas vias de pensamento citadas a cima. Governos que se iniciaram com o militarismo de Marechal Deodoro da Fonseca e que se seguiu com Floriano Peixoto, e posteriormente com o os governos civis com eleições diretas, apesar de restrita a uma pequena margem da população, leva o país a ser governado por lideranças oligárquicas. Apesar das mudanças, foi mantida a estrutura do status quo, o povo permaneceu mantido em segundo plano. A herança das dívidas  para bancos ingleses acumuladas nos tempos da monarquia são ampliados pelos primeiros governos republicanos. Uma política de combate as dívidas só veio a ser posta em prática no governo de Campos Sales, política que no seu resultado socializava as dívidas gerada por más administrações. A partir desta política de os déficits vão apresentando novos quadros. Os tristes moldes econômicos começam a tomar novos rumos, apesar da lentidão do processo e do alto custo que povo arcaria.
É dentro desse quadro que se apresenta o governo de Rodrigues Alves(1902-1906), período que ocorreu a Revolta da Vacina.  
 A situação da cidade do Rio de Janeiro no governo de Rodrigues Alves e a revolta.
Em 1902, ano que Rodrigues Alves assumiu a presidência, o Distrito Federal apresentava um dos maiores portos da América Latina, porém diversos problemas de infra-estrutura e saneamento básico dificultavam a possibilidade desse porto realizar grandes negócios, ruas estreitas,  falta de lugares para estocar mercadorias e baixa profundidade da água do mar dificultava a aproximação dos navios e a locomoção das mercadorias.  
O Rio de Janeiro precisava das reformas, a busca da modernização era extremamente importante para atrair investidores europeus e americanos, que até então, ao se deparar com a atual situação da cidade carioca, saiam daqui horrorizados com a falta de estrutura da cidade e a ploriferação de epidemias que provocavam no povo intenso sofrimento e morte em proporções alarmantes.
No entanto, Rodrigues Aves adota medidas que levam o Rio ao rumo do “progresso”, a base do “custe o que custar”.
Devido à política anterior, adotada por Campos Sales, na busca de sanar as dívidas públicas ao mesmo tempo levou o povo a miséria, dentro desta classe que sucumbiu neste momento, destacamos ex-escravos, filhos e netos de ex-escravos, imigrantes, nordestinos que vinham para o Rio acreditando nas promessas do progresso, pobres assalariados e pequenos comerciantes. Nicolau Sevcenko afirma em sua obra, “A Revolta da Vacina”, que esta classe é levada ao estado de “vagabundice compusória”(Sevcenko,1993), o governo proporciona o desemprego através dos altos juros, inflação descontrolada, superpopulação na cidade e a falência de diversos estabelecimentos comerciais e depois prende o indivíduo que se encontra na “vadiagem”.
Rodrigues Alves então, nomeia Pereira Passos prefeito do Rio de Janeiro, atrasa as eleições na câmara e deixa a cidade em suas mãos para que realize o mais breve possível a modernização da cidade. Pereira Passos assume um poder quase que ditatorial no Rio de Janeiro, devendo satisfações apenas ao presidente.
Na busca da solução para os problemas de epidemias na qual a cidade se encontrava, o médico e sanitarista Oswaldo Cruz desenvolve a vacina contra a varíola e juntamente com Pereira Passos implanta um programa obrigatório de vacinação.
É neste quadro que a  Revolta da Vacina se apresenta, a situação de grande parte da população em alto nível de pobreza somada com a vacinação obrigatória, sanitaristas invadiam a casa das pessoas, despiam mulheres para a aplicação da vacina em uma época em que a sociedade considerava imoral a exposição dos braços femininos. Outro fator agravante foi as expropriações de casas, famílias eram expulsas de casas e quartos sendo verdadeiramente empurradas para fora do centro da cidade e a perseguição a vagabundice dentro das condições já citadas neste texto foram fatores que levaram a revolta a terríveis proporções.
Diante de todo este quadro, podemos apontar o que talvez fosse o estopim da revolta, a agitação da imprensa de esquerda colocando em dúvida a qualidade da vacina, fazendo com que a população temesse, e se recusasse a tomá-la, levantando diversas críticas ao governo então vigente, e uma esquerda formada por uma ala militar insatisfeitas, ex-monarquistas e jacobinos que se aproveitando de um momento extremamente conturbado para planejar um golpe de estado.
Uma organização lenta e precária faz com que o governo se articule para manter a ordem, e os conflitos nas ruas tomam dimensões grandiosas levando milhares de civis a se levantarem contra as forças da polícia e a ala do exército conservadora, o que os levaram a morte e a prisão. Mesmo fim,  tiveram os que planejaram e tentaram o golpe de estado. Estes conflitos, de certo modo levaram o governo a um risco, mas a situação de caos conseguiu ser controlada pela própria política o levou, a da violência.
A modernização, as obras, o aburguesamento do centro da cidade, a política de exclusão social e de violência a classe menos favorecidas, a revolta popular e as tramas de um golpe foram capítulos que se concluíram com a morte de milhares de pessoas, com a prisão de muitas outras, com envio de prisioneiros para o Acre, para trabalhar na extração de borracha, levados em verdadeiros navios negreiros a base de torturas. Muitos que participaram deste triste evento proporcionados em nossa história, foram morrer bem longe do Rio de Janeiro.
A política de modernização se concretiza com a expulsão em definitivo dos pobres do centro da cidade, que fugidos, foram morar nos morros próximos, a região das favelas nas quais temos hoje em proproções bem maiores.

Nicolau Sevcenko aponta que a capitalização, a cosmopolitização, o aburguesamento “modernizador” foi praticado a todo custo e independentemente do mal que pudesse ser cometido a um povo. Um povo que talvez só fosse considerado povo no momento da arrecadação tributária.
José Murilo de Carvalho levanta a idéia de que a política brasileira sofreu influencias ao mesmo tempo, do positivismo, jacobinismo e liberalismo na primeira república. Mas talvez ele tenha esquecido de uma outra, na qual George Luckas trabalha muito bem no texto,”Um Galileu no Século XX “, a Via Prussiana, que através do totalitarismo implantou mudanças modernizadoras com as perspectivas sempre de cima para baixo na Alemanha do século XIX. Diante disto não seria equivocado nem anacrônico colocar que este meio também tenha sido posto em prática no Brasil.
 Termino esta conclusão com uma fala de Câmara Cascudo em 1919 que retrata bem o que sempre foi a política no Brasil; “ Eu o conheci em 1919, ele morreu em 1921. Passando pela Faculdade de Medicina, ele foi nos visitar. Estava em campanha presidencial, competindo com Epitácio Pessoa. Alguém chegou esbaforido e avisou: “Rui Barbosa vem aí”. Não ficou um estudante na cadeira. Todo mundo arribou, inclusive os professores. A faculdade não existe mais, era na praia Vermelha, na Urca. De volta, tomamos a rua, de braços abertos, e ele teve que parar. Fez um pequeno discurso do automóvel, até hoje eu guardo um trecho na memória: “A política, senhores estudantes, é uma verminose brasileira. Inclina o clarão severo e sinistro, aceita o falsete da voz insidiosa e burla as consciências, falando todos os idiomas da mentira”. Só Rui fazia isso. Efetivamente a mentira é poliglota. Só Rui dizia isso".
                                                                                     




Marcelo A. O. J. Leite.





Bibliografia
  Luckas, George. Um Galilei no Século XX. Faltando dados
  Carvalho, José Murilo. A Formação das Almas. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
  Sevcenko, Nicolau. A Revolta da Vacina. São Paulo: Editora Scipione, 1993.
 

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Nós não temos heróis...


Nós, nós não temos heróis. Nem jamais os tivemos. Afinal, para que servem os heróis e suas estátuas de granito ou mármore negro, seus cavalos de bronze, suas medalhas barrocas e as espadas que não passam de metáforas?
Para que servem os heróis se o ácido da chuva desdenha da glória dos homens e nem os pássaros se importam com eles?
Para que servem os heróis se nem sabe quem somos nem jamais ouviram falar dos nossos mitos e utopias?
Infeliz do país que necessita de heróis.
Sobre o autor: Francisco Carvalho
O poeta cearense Francisco Carvalho permanece desconhecido embora tenha publicado quase trinta livros. Em 1982 recebeu o Prêmio Nestlé de Literatura. Em 2004 foi publicada uma antologia do autor com 500 páginas, já esgotada nas livrarias.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Porque Getulio Vargas não sai de cena?

   Vargas é um personagem controverso, difícil de definir. Com os avanços e retrocessos de seus governos, até hoje, depois de seu suicídio sua “aura” ainda paira sobre o governo, nos debates de modelos políticos, o populismo e principalmente o discurso de desenvolvimento e crescimento econômico ecoa até hoje, mas contrasta com um governo autoritário, principal característica de seu governo.
   Depois de sua morte, o golpe militar vai trazer seu nome de volta a cena nacional, pela sua figura autoritária, e com o discurso do desenvolvimento,  a censura, e o apoio da mídia para a construção e fortalecimento de suas idéias, encobrindo assim as grandes atrocidades e perseguições feitas aos movimentos contrários ao regime militar.
   Com a redemocratização do país a figura de Vargas se desvincula da ditadura, para o modelo de um governo democrático e nacionalista, e ganhou força com a comemoração dos trinta anos de sua morte, e por conta de Tancredo Neves que foi ministro de seu governo, se tornou mesmo que por meio indireto, o primeiro presidente civil depois do golpe de 64.
   Nos anos 90 do século XX, Vargas já vira um inimigo das idéias neoliberais, estando ligado a uma idéia de atraso ou de uma “herança negativa “, pois defendia um Estado forte e que centralizava a economia, e ia contra as idéias das privatizações e de mudanças das leis trabalhistas, o Vargismo era visto como uma “trava” para a modernidade.
   O debate muda com a eleição de Lula, à uma retomada do debate sobre um  desenvolvimento nacional democrático seria o seu legado, pois o histórico do presidente  que foi líder sindical reforçava as idéias de Vargas. Um paralelo sobre os dois, Vargas e Lula é um pouco complicado, pois os dois tinham bases políticas diferentes, mas encontramos  alguns pontos em comum, como as questões do petróleo e das fontes de energias alternativas,  a relação e construção da sua imagem.
   A construção de um líder, passa primeiramente pela imagem, e para isso a imprensa tem papel fundamental, tanto Vargas como Lula tiveram seus momentos de exaltação  e de crise com a imprensa. No caso de Getulio Vargas, ele foi considerado como o “ Pai dos pobres”, mas sofreu com as acusações em seu segundo mandato. Já Lula que perdeu três eleições, contou  com a “ajuda” de profissionais do marketing para mudar a visão de um líder comunista comedor de criançinhas, para um  “Lulinha paz e amor” que lhe garantiu a presidência , mas sofreu com a crise do mensalão.
A propaganda está sendo uma figura indispensável nas eleições presidenciais, seja a construção da imagem ou destruição da mesma. Assim como Collor, de bom moço foi a mal caráter e derrubado do governo, na construção de um “intelectual com cara de povo” como no caso de Fernando Henrique, o pai do plano real. Diante de todos estes momentos na política brasileira e de tantos nomes fortes, Getúlio Vargas nunca deixou de ser um ícone, quando o assunto era governo e propaganda.

Ireldo Alves da Silva.
Marcelo A.O.J. Leite.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Algo está errado.

Como dizia o poeta português João Cabral de Mel Neto:

“ Os poemas que faço costumo deixá-los guardados em uma gaveta durante seis meses. A partir daí consigo ter a frieza e superar as emoções que me causou quando os fiz e chego a conclusão se devo publicá-los ou não”.

A falta de tempo para escrever este texto me induziu a esta técnica que me fez trazer a tona alguns aspectos que a princípio não havia cogitado. A questão de como as notícias tem tempo de validade. As notícias de violência dentro da escola a alguns meses estiveram em evidência cotidianamente e derrepente parou. Será que toda problemática se resolveu? Será que não temos mais casos de violência dentro das escolas para que continuem sendo denunciadas para pressionar as pessoas responsáveis pela educação, ou seja, todos nós pela busca de outra realidade? Talvez por ser mês de férias... Não havia pensado nisso. O espaço que a mídia tanto enfatizou nos últimos meses se limitaram, dando destaque para outras notícias mais comerciáveis.



A alguns meses a mídia divulgou mais uma denuncia de agressão em sala de aula que me chamou atenção.

Uma professora de matemática de uma escola pública na cidade de Guaimbé no estado de São Paulo foi alvejada com uma carteira nas costas após pedir silêncio para os alunos.

Este foi apenas mais um de outros tantos casos que vem sendo denunciado cotidianamente, sem contar os casos anônimos que por conta do medo do agredido acabam por não ser denunciados.

Aluno agredindo, ameaçando ou depredando automóveis de professores, professor prendendo dedo de aluno na porta. Uma relação cada vez mais desarmonioza, para não dizer catastrófica vem atingindo escolas tanto públicas quanto privadas.

O ambiente que deveria existir para desenvolver graus de potencialidades, de humanização surge como espaços de diárias batalhas das quais o maior derrotado é a própria sociedade.

E ao contrário de muitos discursos que atribuem esses tristes fatos como um problema tipicamente brasileiro ou de países latino-americanos subdesenvolvidos correm o risco de fazer uma análise no mínimo superficial ou etnocêntrica. Os noticiários e disponibilizadores de informação on-line denunciam constantemente uma relação cada vez mais violenta entre professor e aluno em países como França, Portugal, Espanha, EUA... Isso sem citar os casos terminados em assassinatos e suicídios.

A crise que se faz evidente nas instituições escolares, que acusam a necessidade de se discutir suas causas e aplicar práticas que alterem este quadro preocupante.

Há necessidade de buscar discutir este problema da sociedade contemporânea que como já foi dito, ultrapassa as fronteiras. Uma análise que não leve a crucificação de professores pela sua falta de capacidade de ensinar, culpabilizando-os pelo fracasso do ensino e que não marginalize os estudantes principalmente das regiões periféricas como se a pobreza fosse sinônimo de barbárie.

Não me cabe aqui, dar respostas salvadoras, percebendo o problema como algo conciso e que suas causas e soluções tem fórmulas únicas nas quais uma aplicação de política pública universalizante resolveria o problema da violência em todas as escolas de forma uniforme.

Contudo, se faz necessário uma análise estrutural do panorama educacional em São Paulo que nos dê um parâmetro como ponto de partida. A final, o que vêm ocasionando tanta intolerância nas relações interpessoais principalmente dentro de sala de aula? Como anda a base familiar destes alunos que hoje estão presentes na escola? Os valores de hoje em dia ainda são os mesmos? Quem educa pais ou escola? Qual a realidade vivida pelos profissionais da educação em nível de formação, valorização? O modelo de escola que temos é o modelo que queremos? A escola de hoje é resultado de quê transformações históricas? As interrogações são tantas que com certeza este ensaio não dará conta de todas as respostas. Porém, pelo menos nos faça refletir e agir de forma verossímil, mas que esta ação e reflexão aconteçam efetivamente de forma democrática, onde envolva pais, professores, alunos, psicólogos, pedagogos, assistentes sociais e o Estado.

Uma das características da pós-modernidade é a falência das instituições. As instituições garantidoras de acesso ao cidadão a direitos conquistados por uma sociedade democrática, a muito tempo vem passando por um momento de crise na sua funcionalidade. Educação, saúde, segurança e transporte se mostram frágeis e ineficazes atendendo a população de forma precária. Mas o próprio termo “crise” sugere que em outros tempos estes mesmos serviços tiveram boa funcionalidade. E o que podemos perceber é que isso não é uma verdade confiável.

Apesar de discursos críticos, é importante frisar que a qualidade da educação sempre foi algo discutível em todos os tempos em nosso país. Em alguns momentos, pequenos sentimentos de satisfação, mas a grande verdade é que quando ela foi prioridade procurou construir um povo pacífico, alienado politicamente, se preocupava com conhecimentos técnicos para a construção de mão-de-obra barata, desarticulado ou para formar elites que se mantivessem no poder de forma perpétua. E será que este modelo mudou? Não mudou, porém o ensino hoje não atinge nem as expectativas exclusivistas que um dia se propôs a cumprir.

Escolas Jesuítas no período colonial, a primeira experiência em educação institucionalizada no Brasil, tinha a função de “amansar” os índios para melhor serem explorados. Séc. XIX, uma educação voltada para criar um espírito de nacionalidade, reverenciando heróis, aprendendo a exaltar o estado ou meramente buscando levar a leitura e escrita para os mais pobres. Escolas ainda em números muito reduzidos para atender uma população em crescimento. Na década de 30 após a Revolução, uma educação que buscava atender os interesses de uma sociedade que se industrializava na tentativa de profissionalizar trabalhadores e tornar o Brasil longe de uma dependência externa. Porém, a cidadania sendo atrelada a estar ao lado do Estado entendido como “pai dos pobres”, um caráter paternalista dos quais a nossa cultura política ainda não se livrou. Na década de 50, período de maior liberdade política que até então não havia ocorrido, que logo foi obscurecido pelo golpe militar de 1964 levando o Brasil a um período longo e triste de nossa história, período este que deixou profundas seqüelas na educação brasileira. A trajetória percorrida por este longo tempo de quinhentos e onze anos nos levou a um triste resultado na construção da cidadania brasileira, que na verdade ainda é um processo, e que certamente continuará sendo durante logo tempo. Mas o que temos percebido, é que os atuais mecanismos de poder está a cada dia mais reafirmando os interesses do capital na busca da formação de consumidores alienados e não está conseguindo construir caminhos para a formação desta cidadania, coisa que a escola poderia contribuir e não contribui por conta de uma série de problemas que a instituição enfrenta e não consegue superar, e no meio deste quadro está os alunos, jovens que vivem num mundo onde tudo mudou, a informação chega na velocidade da luz e a escola continua nos padrões do período colonial da fase jesuítica.

A realidade do professor

Na primeira parte deste trabalho podemos identificar um indício da relação turbulenta na realidade escolar como um processo, porém não podemos colocar apenas na conta de nossa história o resultado da má qualidade da nossa educação como se o passado decretasse o nosso fim, é importante perceber que o presente continua dando sequência no processo de construção da falência da escola.

O professor vive esta realidade em seu dia-dia. Vítima de um processo de proletarização de sua categoria, o professor vem sofrendo profundas deteriorações na sua profissão, processo que vem ocorrendo desde a década de 70 graças aos projetos neoliberais. Uma realidade na qual o professor, até antes desta época era bem remunerado, “respeitado” como profissional, tanto pelos alunos como pela sociedade passou a enfrentar um processo de declínio de sua realidade. Com a ampliação do acesso da população carente a educação e a necessidade de formar mais professores para atender a demanda, a categoria entrou num processo de proletarização onde seus benefícios foram tocados profundamente, sendo que se antes ganhavam um salário respeitável, lhe permitia ter sua casa, seu carro, plano de saúde e uma vida confortável, hoje o professor enfrenta uma sobrecarga de trabalho, alguns trabalhando 3 períodos em várias escolas diferentes, com uma formação precária, sem continuidade, baixíssimos salários dentre tantos outros problemas e ainda por cima vivencia uma categoria fragmentada com insatisfeitos pelas perdas e os satisfeitos com a possibilidade de ascensão social dos novos professores que apesar dos baixos salários ganham mais do que em suas antigas profissões.

Falta de tempo para se preparar, seja para apenas ler ou visitar eventos culturais que contribuam para seu crescimento intelectual, seja graças a uma má formação os professores enfrentam em seu dia-dia, alunos com uma sede gigantesca de viver a vida e de estar em qualquer lugar que não seja na sala de aula que mais te lembra uma prisão, cheia de grades e de regras que dão um número de informações bem menores e bem mais monótonas dadas em 5 horas, sendo que em meia hora de internet te inclui em um univero bem mais amplo. O pedagogo Ruben Alves cita que dar aulas hoje é como soltar uma velinha com chicote em uma sala com 40, 50 leões.

O que mais preocupa, é que o discurso teórico é todo construído para um embasamento de que a formação dos alunos é voltada para a formação de cidadãos autônomos, críticos, mas que na realidade, não permite o mínimo de autonomia ou criticidade pelo menos voluntária ou consciente, pois a própria revolta e insatisfação do aluno, seja com a escola ou professor é uma reação inconsciente contra o sistema que o cerceia e o quer como exército mão-de-obra barata de reserva. A agressividade do jovem dentro dessas circunstâncias, por mais que ele não esteja percebendo que tudo isso que o cerca está acontecendo torna-se no mínimo compreensível.

A culpabilização ao professor do “seu fracasso” em “salvar a sociedade” como disse a professora de Natal ( Amanda Gurgel) no mês passado em vídeo na internet é uma das maiores covardias históricas que um governo já cometeu sobre uma categoria de trabalhadores, e se não fosse o bastante usa a mídia para fortalecer essa forma de pensar diante do senso comum, marginalizar os movimentos sociais das quais a categoria a duras penas consegue fazer, cria a insatisfação da população, transformando professores em baderneiros e vagabundos que ganham bem e o pior, fortalecem uma imagem de que tudo está muito bem e que a educação melhorou muito. As práticas de violência nas escolas mostradas hoje são evidências bem claras de nem tudo está perfeito.

O Conflito em Sala de aula.

A escola como um espaço social de relações humanas torna-se comum a existências de conflitos sejam eles ideológicos, por diferenças sociais, por vaidades, por desrespeito, enfim, são muitas as causas que podem gerar divergência na relação professor-aluno ou na relação aluno-aluno e professor-professor. O que pode aparecer ai como uma agravante é a maneira com que as escolas lhe dão com isso. O corpo docente, coordenadores e diretores muitas vezes por despreparo buscam anular o conflito. Sem discutir os possíveis problemas, punem os envolvidos sem criar um campo de diálogo para entender as causas, buscar chegar a compreensão de que atitudes estão sendo postas em prática de forma equivocada e que muitos destes problemas poderiam ser resolvidos de outra forma, principalmente em um espaço democrático, onde se busque formar uma cultura democrática. Mas que ao oposto disso são tomadas medidas que tentem conter os ânimos sem muito diálogo e através de imposições das quais geram apenas adiamento de explosões maiores. O que nos faz ver de forma cada vez mais banalizada a ação de alunos murchando pneus de automóveis de professores, soltando bomba nas escolas em horário de intervalos ou se agredindo no término das aulas em frente às escolas.

O conflito é inexorável em qualquer relação humana, é dele que surgem grandes ideias, aprendizagem, respeito e principalmente dentro de um ambiente cheio de jovens tão diferentes, se essa relação não for trabalhada estaremos criando um barril de pólvora prestes a explodir.

É incrível que durante a construção deste texto foram sendo divulgados novos casos de violência nas escolas. O caso da escola de Realengo, no RJ. O rapaz que entrou na escola e matou vários alunos fez levantar uma questão importante. Porque o ódio direcionado a escola que ele mesmo estudou? Isso nos faz pensar em outra forma de violência que evidencia a ausência de diálogo( intermediador do conflito), Bullyng apesar de estar sendo debatido bastante ultimamente e ter ganhado muito espaço na mídia, é um problema que as escolas enfrentam desde que começaram a existir. Mais um problema que não é apenas nacional ou regional, casos de bullyng são expostos todos os dias pela mídia do mundo inteiro. A possibilidade de este rapaz ter sido vítima desta prática como aluno responderia muita coisa sobre o ocorrido, porém o governador do Rio de Janeiro ao invés de levantar esta discussão reduziu o problema em apenas descobrir onde o rapaz conseguiu as armas.

A crueldade das crianças em relação a certas brincadeiras uns com os outros mostra a necessidade de como a relação entre eles precisa ser trabalhada com profissionais preparados e não só por educadores, mas por psicólogos, psicopedagogos que hoje tem minimamente campo de atuação reservado nas escolas.

Um dia questionado num congresso no CRP este ano de porque o psicólogo não tem plano de carreira na educação, respondi ironicamente que se nem o professor tem, quem dirá o psicólogo.

O certo é que com muitas mudanças que a sociedade vem passando, nas relações familiares, seja nos valores que a sociedade vem tendo, nas dinâmicas de vida das famílias sejam elas de pobres ricos ou classe média que passam muito pouco tempo com os pais por conta do trabalho o que abre espaço para uma mídia que visa exclusivamente o consumo e disseminação de vaidades supérfluas que criam um novo padrão de sociedade sem limites, com pressa, com muita informação e pouco conteúdo, cada vez mais individualista, pensando na satisfação própria e não na qualidade de um bem comum tão precioso como a educação, caminhamos por um rumo nebuloso.

A contra mão deste caminho sem dúvida seria a construção da gestão democrática nas escolas que por incrível que pareça é prevista por lei. A lei federal n° 8.069 de 13/0790 diz- Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, Artigos 53 a 59 e 136 a 137.

“53-Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo,pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais”.

Ou seja, munidos da lei esta prática poderia acontecer, pais, professores, gestores, alunos e funcionários poderiam discutir a escola que gostariam de ter. Desde direcionamento de recursos até propostas educacionais e da discussão de problemas gerados dos próprios conflitos. Porém os obstáculos são vários, falta de tempo e de interesse dos pais em participar, dos alunos e de interesse dos gestores em dar estes espaços para os alunos se manifestarem, ou seja, falta de cultura democrática. Professores com sobrecarga de aulas em diversas escolas diferentes impedindo de uma maior participação dos problemas da escola e da comunidade. Ou seja, a teoria nos dá a fundamentação legal enquanto que a prática cria diversas barreiras para que a gestão democrática não ocorra.

O que torna a gestão democrática cada vez mais difícil de ser aplicada obviamente são alguns diretores que insistem em entender as escolas como seus feudos até porque seus cargos são de encaixe não são eleitos pela comunidade.

O caso de violência exposto na TV apesar de abrir espaço para a discussão sobre os problemas da educação no Brasil abrem brechas, tanto para debater os erros e expor o descaso que o governo e a sociedade vêm tendo com algo de tanta importância como também abre precedente da disseminação do medo e de fechar ainda mais, ao pôr mais grades e seguranças impede ainda mais o que deveria ser de livre acesso a todos.

Enquanto o problema da escola sobre a questão da violência for tratado como um problema puro e simplesmente das escolas e não da sociedade de modo geral e que nas escolas acabam sendo apenas um reprodutor do que acontece na sociedade e se não revermos os porquês desta sociedade estar tão violenta, e enquanto as escolas forem tratadas com descaso construindo uma falsa imagem de que a educação está em ótimas condições e negarmos problemas de séculos de existência e que fingem não existir, continuaremos insistindo neste triste caminho de banalização, medo e fracasso.

Marcelo A. O. J. Leite.

Bibliografia.

Costa, Aurea/Neto, Edgard e Souza, Gilberto. A Proletarização do Professor, Neoliberalismo na Educação. São Paulo: Editora Instituto José Luís e Rosa Sundermann, 2009.

Zabala, Antoni. Enfoque Globalizador e o Pensamento Complexo: Editora Artemed.

Caldeira, Tereza Pires do Rio. Cidade de Muros, Crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Editora 34, 2000.

Carvalho, José Murilo de. Cidadania no Brasil, o longo caminho: 3° Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em:


Lei n° 8.069, de 13 de Julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente.Disponível em:


Depoimento da Professora Amanda Gurgel. disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=yFkt0O7lceA
Acessado em Junho de 2011.

Ruben Alves - Entrevista: Memória Roda Viva (8/92003). disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=raeEXZbMl3s&feature=related
Acessado em Maio de 2011.

Quilombos, Jingas e Luta de Resistência.


Quando pensamos em África, logo nos vem à idéia de escravidão, de fome miséria, e porque não dizer de certa acomodação, parece que mesmo com toda essa terrível sorte, o povo africano ainda sorri. Como isso acontece? Parece que estão aceitando a exclusão que recai sobre esses povos?

A África nos dá exemplo de resistências diversas, não somente para a sobrevivência humana, mas em várias dimensões, como cultura e religião, e prova que a manutenção do jeito de ser do povo africano é muito sutil e forte, e dentro deste sorriso está o grande sinal de resistência, mas também a história do ponto de vista eurocêntrica, tal como vimos em alguns livros, mostra o escravizado africano como passivo dentro desta situação, e acomodado em relação a colonização, ou até como indolentes mediante ao avanço da “arabização” que adotara a religião do islã.

As diversas regiões da África, por exemplo, o islã praticado por essas populações são diferentes, não seguindo a rigidez de seus costumes originais, um grande exemplo desta dinâmica é o Sudão, que tem influencias dos árabes mulçumanos, os Iorubás, que tem em sua religião o culto aos orixás, também levou essa “ludicidade” ao islã, assim fazendo um certo sincretismo entre as religiões, e criando o seu próprio jeito islamisco.

Outras lutas, também se desenharam em África como da rainha Nzinga ou rainha Jinga de Matamba, que é uma heroína Nacional de Angola, que liderou o povo guerreiro dos jaguares, três vezes, sempre enganando os Portugueses, com inteligência e sagacidade, significados atribuídos hoje a capoeira ao futebol e ao samba que carregam muito da cultura africana. Agostinho Neto o primeiro presidente da Republica Popular de Angola, Zumbi dos Palmares, a Revolta dos Malês, as guerras de independências das colônias, entre outros que são prova de uma resistência aguerrida dos diversos povos africanos.

Como resistir a séculos de exploração, mortes, e escravidão, colonizações, ditaduras, e violências causadas pelos povos europeus, que conduzem até hoje as decisões econômicas e políticas, que detém um modelo de organização social totalmente diferente dos povos africanos, com suas culturas diferenciadas, seus 54 países e 600 milhões de habitantes, com historia e dinâmicas, artes, línguas, religiões. Somente através de uma resistência não só pela força mas também pelo poder de adaptação dos povos africanos a outras formas de cultura, que sobrevive as tensões e deixa sua marca na trama do tecido de varias culturas dentro e fora da África.

Um símbolo que expressa essa resistência sutil, do povo africano é o Sankofa,o povo Akan que está na atual Gana, é um símbolo Adinkra, é um pássaro com os pés firmes no chão e o olhar para trás, a reflexão, o rever, em que o novo só se faz quando se quebra a dor e as mazelas do passado.

Por isso as lutas se dão até os dias de hoje, como no Egito, na Tunísia e na Líbia, e os povos africanos, continuam achando um jeito, uma forma, uma Jinga para driblar o poder que oprimem esses povos.



"Quebre suas correntes e serás livre...

Corte suas raízes e morrerás!"

(Provérbio Africano)

Ireldo Alves da Silva.