terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A Esquina Estava Lotada...


A esquina estava lotada
Era véspera de Natal
Uma mulher maltrapilha pedia de mão estendida
Seu nome era Maria
Junto, um homem alheio dormia sob o barulho impiedoso do mundo
O seu nome era José
Houve-se um grito
Ladrão
Uma criança corre com um relógio na mão
Derrepente um freio, um menino morto
Seu nome era Jesus
A mulher olhava para aquela triste manjedoura
Não havia vacas, só ratos
Não havia estrelas, só a luz giratória da polícia
Não havia reis, só homens com pressa
Alheios a tudo
É Natal



Tarcísio Regueira.

sábado, 2 de outubro de 2010

Palestra do Geógrafo Aziz Ab' Saber na Unicastelo

Quarta-Feira, 06/10/2010, o geógrafo Aziz Ab' Saber estará na Unicastelo apartir das 19hs palestrando o seguinte tema:

Os Efeitos da Construção de um Estádio ( Abertura da Copa) em Itaquera.

- Professor-Emérito da USP, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.
- Professor Honorário do Instituto do Instituto de Estudos Avançados da USP.
- Doutor Honoris Causa, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP e Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ.
- Membro da Academia Brasileira de Ciências.
- Membro Honorário da Sociedade de Arqueoligia Brasileira.
- Prêmio Almirante Alvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia de 1999.
- Grão-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico em Ciências da Terra.
- Prêmio Internacional de Ecologia 1998.
- Prêmio UNESCO para a Ciência e Meio Ambiente 2001.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Ode aos herdeiros políticos...


ODE AOS HERDEIROS POLÍTICOS. GANHAM AOS CATORZE ANOS A PRIMEIRA GRAVATA, COM AS CORES DO PARTIDO QUE MELHOR OS ILUDE. AOS QUINZE, SEGUEM A CARAVANA. APLAUDEM CONFORME O CENHO DAS CHEFIAS. SÃO OS CHAMADOS ANOS DE FORMAÇÃO. AÍ APRENDEM A COMPOR O GESTO, A INTERPRETAR HUMORES, A MENTIR HONESTAMENTE. APRENDEM A LEVEZA DAS PALAVRAS, A ESCOLHER O VINHO, A ESPUMAR DE SORRISO NOS DENTES. APRENDEM O SIM E O NÃO MAIS OPORTUNOS. AOS VINTE ANOS, JÁ CONHECEM PELO CHEIRO O CARISMA DE UNS, A MENOS-VALIA DE OUTROS, ENQUANTO PROSSEGUEM VAGOS ESTUDOS DE DIREITO OU ECONOMIA. ESTÃO DE OLHO NOS PRIMEIROS CARGOS; É PRECISO MINAR, DESMINAR, INTRIGAR, REUNIR. SÓ OS PIORES CONSEGUEM ULTRAPASSAR ESSA FASE. HÁ ENTÃO OS QUE VÃO PARA OS MUNICÍPIOS, OS QUE PREFEREM OS ORGANISMOS PÚBLICOS. TUDO DEPENDE DE UM GOLPE DE VISTA OU DOS PATROCÍNIOS À DISPOSIÇÃO. É BEM O MOMENTO DE INTEGRAR AS LISTAS DE ELEGÍVEIS, PONDO SEMPRE A BAIXEZA ACIMA DE TUDO. A PARTIR DO PARLAMENTO, TUDO PODE ACONTECER: DIRETOR DE EMPRESA PÚBLICA, COORDENADOR DE CAMPANHA, ASSESSOR DE MINISTRO, MINISTRO, DIRETOR EXECUTIVO, PRESIDENTE DA CAIXA, EMBAIXADOR NA PQP!... MAIS À FRENTE, PARA COROAR A CARREIRA, O GOLDEN-SHARE DE UMA CADEIRA AO PÔR-DO-SOL. NO FINAL, PARA OS MAIS OBSTINADOS, PODE HAVER NOME DE RUA (COM OU SEM ESTÁTUAS), FLORES DE PANEGÍRICO, FANFARRAS E... FORMOL!

Sobre o autor:
O poeta português José Miguel Silva nasceu em maio de 1969, em Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto. Publicou os seguintes livros de poesia: O Sino de Areia (Gilgamesh, 1999), Ulisses Já Não Mora aqui (&etc, 2002), Vista Para um Pátio Seguido de Desordem (Relógio D’Água, 2003), 24 de Março (2004) e Movimentos no Escuro (Relógio D’Água, 2005).

A formação do povo político.


Falar em democracia política é falar do governo do povo. Segue-se que a condição da existência da democracia é a presença de um povo político. Povo político, por sua vez, é aquele que dispõe de todas as condições, materiais e intelectuais, para participar conscientemente e eficazmente da vida pública de maneira direta ou indireta. É aquele que pode votar, aderir a partidos, manifestar-se nas ruas e na mídia, apoiar, protestar, rebelar-se. Povo político é a cidadania ativa.


A ideia de um povo totalmente cidadão é uma utopia. Nas repúblicas ateniense e romana, os cidadãos ativos eram apenas uma parcela do povo. Nas repúblicas de hoje, mesmo nas mais realizadas, há desigualdade nas condições de participação política. Esse fato não nos precisa perturbar. Basta-nos a convicção de que quanto maior o grau de autogoverno de um povo, mais democrático será seu governo, mais sólidas suas instituições e mais justa a distribuição da riqueza social.

A formação de um povo político exige processo longo que varia de país a país. Em alguns casos, com na Grã-Bretanha, ela se deu a partir de uma revolução econômica que implantou o mercado capitalista. Em outros, como na França, sua origem foi uma revolução política que se apoderou do Estado. Em outros ainda, como na União Soviética, o ponto de partida foi uma revolução social. Essas revoluções mobilizaram a sociedade inteira e criaram as condições para a emergência, mais cedo ou mais tarde, de um povo político. Em nosso caso, a dificuldade tem sido maior porque não passamos por revolução alguma. Nosso percurso histórico contornou a violência das revoluções, mas, por isso mesmo, e graças à persistência das desigualdades, foi muito lento na criação de um povo político.

Podemos distinguir quatro povos: o povo dos censos, que equivale ao conjunto da população de um país; o povo político, que é aquele que atua dentro do sistema representativo, sobretudo votando; o povo da rua, aquele que age e reage, mas fora do sistema formal de representação, e o povo silencioso, alheio à política. Um país será tanto mais democrático quanto maior for a coincidência entre o povo dos censos e o povo político e quanto mais reduzidos forem os povos da rua e do silêncio. Concentro a análise no povo político-eleitoral.

No que se refere a eleições, o Brasil foi de 1822 a 1881, na lei e de fato, mais democrático do que os países europeus. Cerca de 1860, por exemplo, votavam no Brasil no primeiro turno 13% da população livre. Na Grã-Bretanha votavam 3%, na Suécia, 5%, na Espanha, 2,6%. No entanto, a lei de 1881, que introduziu a eleição direta, causou grande retrocesso ao proibir o voto do analfabeto e ao dificultar a prova de rendimentos. Na época, 85% da população eram analfabetos. Na eleição parlamentar de 1886, votou apenas 0,8% da população. Foi nessa época que o biólogo francês Louis Couty escreveu que o Brasil não tinha povo, querendo dizer com a afirmação que o país não tinha povo político. A Constituição de 1891 eliminou a exigência de renda, mas manteve a de alfabetização. A consequência foi que durante toda a Primeira República (1889-1930), a participação eleitoral não passou de 5% da população. Nas eleições do centenário da independência, em 1822, apenas 2,9% votaram.

A participação de 1860 só foi recuperada em 1945, quando votaram 13,4% da população. Foram 64 anos de incrível estagnação, quando em outros países a participação eleitoral aumentava constantemente. Em compensação, após 1945, houve no Brasil uma expansão muito rápida do povo eleitoral. Em 1960, o eleitorado correspondia a 22% da população, em 1986, a 51%, em 2009, a 71%. A Constituição de 1988 foi em parte responsável por esse crescimento ao eliminar a exclusão dos analfabetos e baixar a idade para 16 anos. Foi um salto espetacular. Em 50 anos, mais de 120 milhões de brasileiros foram acrescentados ao colégio eleitoral. O aumento não se deteve mesmo durante a ditadura. Entre 1962 e 1986, o eleitorado cresceu em 53 milhões.

O Brasil passou rapidamente a ter povo político-eleitoral. A rapidez da inclusão deu margem aos populismos varguista, ademarista e lacerdista. Os políticos descobriram a nova mina de votos e trataram de explorá-la com as táticas conhecidas. Em 1964, essa súbita avalanche de votos implodiu o sistema representativo, não acostumado à presença de povo. Os milhões que começaram a votar durante a ditadura fizeram um aprendizado torto do sentido do voto. Votar era um ritual ocioso diante da emasculação do Congresso.

Temos hoje um povo político amadurecido, uma democracia sólida? Para voltar às definições, o povo político-eleitoral está hoje mais próximo do povo do censo do que em qualquer outro país, graças ao voto aos 16 anos. O povo da rua, por sua vez, reduziu-se substancialmente. Até o MST faz hoje política dentro do sistema. Quando não o faz, é por conivência das autoridades. Os traficantes que controlam partes do território urbano não são atores políticos. O povo silencioso ainda existe, mas tem peso cada vez mais reduzido. Uma novidade positiva é que, apesar de ser a participação política ainda excessivamente limitada às eleições, ela encontra hoje na internet vasto campo de atuação que está longe de ter esgotado suas potencialidades.

Assim, em termos eleitorais, pode-se dizer que temos hoje um povo político. No entanto, além de ser reduzida a participação fora das eleições, ainda não temos um povo político maduro se levarmos em conta o que Cícero já exigia para a existência de uma autêntica república: a igualdade social ou, pelo menos, legal. Com as imensas desigualdades que ainda temos, sobretudo de renda e educação, os votantes não têm a mesma liberdade de escolha. Apesar dos avanços na redução da desigualdade, o Brasil ainda possui 54 milhões de pobres, muitos deles eleitores. Além disso, 53% do eleitorado não completaram o ensino fundamental. No governo de Lula, esse eleitorado compreendeu a relação de causalidade entre voto e políticas sociais. Contudo, ele vive no mundo da necessidade, onde sua liberdade de escolha se restringe ao cálculo dos benefícios que recebe. É o caso dos 58 milhões de brasileiros que se beneficiam dos aumentos do salário mínimo e da Bolsa Família. Essas pessoas representam a opinião popular, legítima, mas prisioneira da necessidade. Não estão livres para formarem uma opinião pública independente e crítica.

Eis o dilema de hoje: a inclusão social é necessária para reduzir a desigualdade que, por sua vez, é condição para a existência da democracia. Mas, ao reduzir a desigualdade, cria, no curto prazo, um grande eleitorado dependente, terreno fértil para populismos, clientelismos e cesarismos. É o preço do tempo perdido na formação do povo político.


José Murilo de Carvalho - O Estado de S.Paulo

O Etnocentrismo do Bárbaro.



Há mais de cem anos o antropólogo Franz Boas contribuiu para firmar as bases da Antropologia como ciência. Com ele a diversidade cultural passou por novas definições, o que antes era visto como inferior por ser diferente (gênero, cor, raça, crenças, línguas...) passou a serem entendidos por ele como peculiaridades que caracterizam lugares, povos... E que a concepção de superioridade e incômodo com as diferenças são verdades construídas pelos olhos de quem analisa os fatos a partir do seu próprio universo. O Etnocentrismo.
Seu pensamento teve elaboração na mesma época em que o mundo utilizava de políticas eugênicas (higienização social), processos de branqueamento por governos e intelectuais que ainda se apropriavam de pensamentos do século XIX.
No Brasil, um de seus principais seguidores foi o Antropólogo Gilberto Freyre. A obra Casa-Grande e Senzala (1933) deixa bem clara suas influências. Ao expor a vida privada no Brasil colonial, evidencia a importância não apenas do branco europeu, mas dos indígenas e dos negros africanos na formação da cultura e sociedade brasileira.
Todos estes passos evidentemente foram importantes para a construção de análises da compreensão das sociedades e nas constituições que defenderam de forma mais ampla o conceito de igualdade, “pelo menos discursivamente falando”.
Isso não significa que o hábito de inferiorizar, ocasionado pelo preconceito, racismo, o menosprezo pelo que não se enquadravam por padrões pré-defindos a muitas gerações e que de certa forma também já se definiam como culturas consolidadas deixou de ser praticado do dia para noite ou que em pleno século XXI esta prática tenha sido extinta. No caso da mulher, estatisticamente, continua sendo pior remunerada em relação ao homem, o preconceito aos homossexuais, aos negros que continuam sofrendo com o racismo, e o preconceito religioso, tendo em vista que hoje não queimamos os que não são católicos nem os chamamos de hereges mas os julgamos como fanáticos por seus trajes, hábitos ou estereotipamos estigmatizando-os como terroristas fundamentalistas. As novas tribos urbanas que são descriminadas por outras ou pelo padrão social que insistimos nomeclaturar como normal.
Esses padrões de “normalidade” que muitas vezes são impostos na sociedade pelo mercado ou por uma cultura conservadora que não admite transformações em outros tempos chamariam os diferentes de “Bárbaros”.
O Império Romano nos permite ter uma visão nítida sobre este assunto. Ao expandir seu poder político, territorial, militar e econômico por quase toda a Europa foi necessário a cima de tudo pra tornar todas as outras expansões possíveis, levar aos povos dominados o seu modelo de vida, ou seja, expandir sua cultura, sua fé (religião), seu idioma.
Num projeto de romanização por todo o continente foi imposta a ordem por seus modos de dominação. Os que viviam fora dessa condição de dominação eram considerados Bárbaros.
Quando os povos germânicos(bárbaros) começaram a ser expostos ao domínio cultural romano gerou-se um choque poderoso. Apesar dos bárbaros sofrerem o processo de aculturação, as tendências políticas econômicas e sociais que levaram o Império Romano ao declínio foram reforçadas pelas invasões bárbaras, momento que acarretou no corrompimento da cultura romana. Este corrompimento permitiu a miscigenação sem a necessidade de prevalecer aspectos primordialmente romanos e o bárbaro levando entre outros aspectos a criação de diversos idiomas dos quais temos hoje ( português, francês, espanhol...).
Todos estes processos de aculturação e miscigenação fez com que o Antropólogo Darcy Ribeiro apontasse o Brasil como a “Nova Roma”, referindo-se a grande miscigenação racial e cultural que nos deu a peculiaridade que ele mesmo chamou de “ esses povo de milhões de pele morena”. Contudo, ao analisarmos a sociedade brasileira, reparamos que há outra condição etnocêntrica bem nítida. Se o romano identificava o “não-romano” como bárbaro, vendo-o como ser inferior, pagão ou como uma ameaça, por aqui se evidencia outro modelo de bárbaro, o pobre.
As relações que se dão neste quadro de antagonismo classista se apresentam como distanciamento e medo por parte dos grupos privilegiados. Dinâmicas que abriam espaços a políticas de higienização que em outros tempos já foram muito mais explícita que hoje cavaram ainda mais o poço da desigualdade. Com isso, os novos padrões impostos construíram um novo modelo de bárbaro. Mas, diferentemente do romano antigo que buscava a romanização do bárbaro. O “romano” de hoje quer negar a sua existência, através do distanciamento do pobre, reforça a sua marginalização. O “romano” não quer vê-los bebendo em taças de cristais e muito menos quer ele mesmo beber em copos datados. Evidentemente que o Império Romano não desenvolvia a política de igualdade social, o intuito da disseminação de sua cultura era para fins de dominação.
Mas a agravante desta dialética é que o Bárbaro, ele também quer beber em taças de cristal. A análise que o historiador Leandro Karnal faz para este debate vem a ser muito oportuna comparando os desejos do povo durante a revolução francesa aos do povo dos dias de hoje:
“... antes o povo queria derrubar a Bastilha e o palácio de Versalhes. Hoje o povo quer derrubar a Bastilha e viver no palácio de Versalhes”.
O que se faz evidente nesta relação de “querer morar em Versalhes” é que ao conseguir esta façanha logicamente que simbólica, através de conquistas obtidas na aquisição de bens de consumo, o trabalhador deixa de se reconhecer como o “Bárbaro” e passa a reproduzir o preconceito dos quais o impedem de se reconhecer sob suas origens. Ou seja, o “Bárbaro” contemporâneo esquece que também é ”Bárbaro” e ao negar aos seus, nega a si próprio.



Bibliografia:
Boas, Franz. Antropologia Cultural. Org. Celso Castro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2044. 109 p.
Freyre, Gilberto. Casa-Grande e Senzala: Formação da Família Brasileira sob Regime Patriarcal. 51ª Edição. São Paulo. Editora Global, 2006.
Ribeiro, Darcy. As Américas e a Civilização: Causas do Desenvolvimento Cultural Desigual dos Povos Americanos. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970.
Karnal, Leandro. A Utopia da Idade Perfeita. Palestra. Café Filosófico, 2009.

Marcelo A. O. J. Leite

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Pensando Comunidade no Brasil.



Se levarmos em consideração as condições geográficas do Brasil, com seu território alcança 8.514.215,3 Km³ e que neste vasto espaço temos um emaranhado populacional de aproximadamente 190 milhões de brasileiros vivendo em 5.507 municípios, em 27 unidades de Federação chegando a um total de 54.265.618 moradias, e uma diversidade cultural tão ampla quanto seu território. Uma mistura de raças jamais vista em qualquer parte do mundo. Sem contar com a situação socioeconômica de cada grupo social existente por aqui. Diversidade que fez o Antropólogo Darcy Ribeiro se referir a esta nação como a “Nova Roma”, nos dá um caráter pretensioso ao querer tratar de um conceito tão complexo diante de tantas diferenças dentro de nosso país, correndo o risco de analisá-lo de forma generalizante.
Levando em consideração todos os dados iniciais para tratar este assunto, busquei me apropriar da definição do Sociólogo Florestan Fernandes que se refere ao significado da palavra (comunidade) da seguinte forma:
“Comunidade se traduz em um conjunto de pessoas que se organizam sob o mesmo conjunto de normas, geralmente vivem no mesmo local, sob o mesmo governo ou compartilham do mesmo legado cultural e histórico. É um grupo territorial de indivíduos com relações recíprocas, que servem de meios comuns para lograr fins comuns.”
Mas se de um lado a grande diversidade nos separa, por outro propicia um fenômeno muito peculiar que de certa forma nos uni, a “regionalidade”. Este fator com certeza cria uma aura de identificação cultural. Essa identificação se faz notória quando vemos gaúchos cultivando hábito de tomar chimarrão e comer churrasco, do carioca com o samba, do carnaval na Bahia, do pão de queijo com o mineiro e de uma forma geral o futebol com o brasileiro...
Mas será que estes fatores regionais culturais são suficientes para impulsionar pessoas que moram na mesma cidade, mesmo bairro, na mesma rua a se organizarem e articularem em prol da mesma causa? Será que há a mesma causa? Mesmos interesses?
Ao mesmo tempo em que podemos afirmar que sim para essas interrogações, também podemos verificar durante a nossa história, a existência de capítulos que apontaram muitos denominadores comuns, mas, que os restos e as diferenças muitas vezes impediram a realização de formação de uma comunidade engajada e participante e quando esses obstáculos foram superados as mesmas foram marginalizadas, consideradas subversivas, uma ameaça ao status quo, sendo dizimadas em nome da “ordem e do progresso”.
A primeira grande dificuldade de formação de comunidades segundo o significado proposto neste texto, a partir da organização feita de baixo pra cima, por mais difícil que possa parecer foi no processo de escravidão negra no Brasil, a final de contas tinham muito em comum para se unirem e fazer valer sua voz (no caso, a busca da liberdade). A escravidão negra no Brasil tem seu início no século XVI por volta de 1570 ocasionando posteriormente o “fim” da escravidão indígena, por os fidalgos portugueses acreditarem que os africanos eram mais aptos para trabalharem na plantação e extração de cana-de-açúcar(produto gerador de maior riqueza da época). Com isso no século XVIII a população negra no Brasil já era uma maioria bem significativa. E a pergunta que se faz é: Por que não se rebelaram? Por que não se organizaram e lutaram contra o fim da escravidão?
A resposta pode vir de diversas formas. Se partirmos de algumas colocações étnicas, geográficas e sociais, perceberemos que os africanos vinham de suas terras muitas vezes separados de seus povos, misturado com outros rivais ou de domínio de idiomas ou dialetos diferentes (leve-se em consideração que a África é um continente que fala mais de 56 mil línguas e dialetos diferentes), que estavam longe de casa, atravessaram um oceano e não tinham a menor idéia de onde estavam. - Fugir para onde? E que muitos deles com o passar do século nasceram e cresceram na condição de escravo sem saber o significado prático da palavra “liberdade”.
Apesar de todos estes fatores que impediam a reação à escravidão e de sempre ter sido mantido sob controle pelos portugueses, as fugas ocorriam, e dessas fugas surgiram o nosso objeto de análise, a comunidade ( neste caso específico, os quilombos), onde viviam sobre muitos aspectos que classificamos como meios e fins comuns. A liberdade, o refúgio, as relações comerciais autônomas, as produções, suas articulações de defesa, enfim, a participação de todos do seu núcleo de forma ativa que os levava a uma melhor condição de vida que não fosse à escravidão.
Mas essa organização social (comunidade) era fora dos padrões do poder vigente, sendo assim, foi considerada subversiva, uma ameaça ao status quo. Logo marginalizada. E todos os esforços foram feitos até que esta “ameaça” fosse aniquilada. Sua existência como comunidade só era aceita se fosse dentro das senzalas, ou seja, uma comunidade submissa, oprimida e organizada se cima para baixo.
Se avançarmos um pouco mais no tempo, veremos que no final do século XIX, já a barra das saias da Lei Áurea na região do Nordeste, houve outro suspiro de formação de uma comunidade. Refiro-me a cidade de Canudos.
Região dominada por fazendeiros (coronéis), uma minoria privilegiada que vivia à custa da exploração do trabalho da miserável população sertaneja. A insatisfação com o destino que suas vidas se encaminhavam e com os rumos que a proclamação da república traçava, abriu a lacuna para serem impulsionados e organizados por uma liderança religiosa, a se rebelaram e migrarem de suas cidades a caminho Canudos, como se ela fosse a São Paulo da época, (no sentido que os sertanejos depositaram a esperança de uma vida melhor na cidade de Canudos) da qual não precisavam jogar as regras da república pagando impostos injustos e possibilitando a construção de uma vida que não fosse apenas sucumbir às mazelas.
Obviamente, mais uma vez, as forças do governo simplesmente se fizeram valer. Apesar da longa resistência, acabaram por riscar Canudos do mapa, proporcionando uma das maiores carnificinas (25 mil mortos) de nossa história e pendurando a cabeça de seus líderes para que fique de lição que não é cabível neste país a formação de qualquer tipo de organização popular. A corrente filosófica do Positivismo de August Comte influenciava fortemente nossa política neste período, que as transformações e soluções dos problemas deveriam ser confiadas cegamente às forças do Estado, que apenas por si e pela ciência a sociedade evoluiria em todos os aspectos. Este modo de enxergar a realidade era tido como verdade absoluta.
No século XX, o país, ao caminhar para sua revolução industrial, revolução que transformou as estruturas da sociedade por um lado e de outro manteve as condições de organização social nos mesmos propósitos. O poder continuou privilegiando uma minoria. E não foi diferente o processo de formação dos grandes centros urbanos.
Os grupos que surgiram na década de 1920 conhecidos como anarco-sindicalistas e a formação do PCB, propunham que uma revolução fosse feita no Brasil visando uma sociedade mais justa que não fosse conduzida por oligarquias, mas conduzidas pelos trabalhadores. O resultado não passou de algumas conquistas trabalhistas que muitas vezes não passaram de promessas, logo foram desmobilizados e marginalizados ( ser chamado de anarquista era uma ofensa neste período levando o indivíduo ao risco de prisão caso fosse provado que ele realmente o fosse).
Na década de 1960, diversos grupos politizados, com relações recíprocas, com meios e fins comuns, incomodavam o a aristocracia civil e militar na exigência de reformas sociais e questionando o governo. O preço pago foi à desarticulação e perseguição dos movimentos sociais durante 20 anos. E o maior êxito deste governo foi a trabalho incessante em cima de um projeto de educação que nos deixou seqüelas até hoje, onde a escola se afastou totalmente da responsabilidade de criar um ambiente de reflexão, de formação de seres questionadores. Este talvez seja o que mais tenha nos causado danos. Ao fragilizar a nossa capacidade de questionar, ao mesmo tempo ampliou o poder de dominação do status quo sobre as massas, que hoje utiliza os mais modernos meios de comunicação para alienar e criar barreiras ainda maiores para a organização da sociedade por conta dela própria. Reforça-se ainda mais a marginalização dos movimentos sociais por conta da própria sociedade em todos os seus níveis. Dificilmente vemos por ai uma simpatia popular em relação a greves, manifestações sociais... O que reproduzimos nada mais é que o discurso televisivo, “... que são uns desordeiros, deveriam trabalhar ao invés de ficarem fazendo arruaça por ai.”
Se no período da ditadura ou na redemocratização o Estado utilizou todos os artifícios, seja da desestruturação do ensino ou da alienação por meios de comunicação, o século XXI iniciou com mais um grande obstáculo, um filho do século XX conhecido como Neoliberalismo. Com uma política que visa às relações de mercado a cima do Estado, tende a não enxergar mais o cidadão e sim o consumidor, se existem comunidades, são comunidades de consumidores. Grupos que tem determinadas “necessidades” em comum, para que consumam em comum e alimentem o mercado. Este grupo que consome em comum é visivelmente encontrado em “tribos” formadas partindo de estereótipos e arquétipos, seja na construção de ídolos em comum, marcas, estilos musicais, condições de gênero, faixa etária, esportes... Nascem elos que ultrapassam a perspectiva de regionalidade (cultura regional), mas ao mesmo tempo é superada também movimenta um mercado específico para suas especificidades. Tudo passa a impulsionar o mercado, tudo vira produto. A frase de Marx se faz mais uma vez atual: “Para entendermos a nossa sociedade, baste entender o mercado que nos rege”. E até quando o capitalismo demonstra crise e surgem símbolos contra a si próprios, o sistema cria produtos para estes contrários consumirem e os que se reconhecem contra este modelo acabam alimentando e fortalecendo a perpetuação desta condição. Este modelo de comunidade que o neoliberalismo cria tem para nós um sentido de contramão-comunitária. A nossa eterna insatisfação e nosso eterno desejo de consumir determinados produtos que nos faça sentir melhor ou pertencente a algum grupo que parte sempre da satisfação individual é resultado da incapacidade de analisar e refletir sobre essas condições pré-concebidas, e pior, muitas vezes é percebida mas, não é combatida, pois o indivíduo se adaptou a uma condição de mundo que respira essas relações desde seu nascimento causando neste mesmo indivíduo a construção e consolidação de uma cultura.
A criminalidade organizada se aproveita deste processo de fragilização social na qual a sociedade se encontra, apontando caminhos que desvirtuam e ao mesmo tempo que organizam o meio, mas a sua maneira. O crime se organiza onde o descaso impera e onde a sociedade é desorganizada.
Para consolidar ainda mais a comunidade de mercado, a publicidade vem investindo em Marketing Cultural, as empresas patrocinam eventos esportivos, teatrais, filantrópicos... Expõe suas marcas em atividades culturais, sobre referências vitoriosas vestindo a máscara de incentivo a cultura para fortalecer seu nome no mercado e criar uma relação de fidelidade com o consumidor.
Com esta análise, se não conseguimos detectar todos os fatores que impedem a formação de uma comunidade participativa ou que contribuem para desarticulá-la, conseguimos determinar pontos de extrema relevância, sejam esses fatores históricos, culturais, sociais, políticos e econômicos. E que apesar de toda carga histórica um grande promovedor das maleficências da sociedade contemporânea são os que lucram com esta dinâmica de mercado, funcionando como reforçadores dessa condição a todo o tempo. Se o caminho de adaptação ao mundo em que vivemos se apresenta como prejudicial, alienante e a controlados político, torna-se evidente a necessidade de busca de outros rumos. Um rumo na contra mão desta proposta, a busca da inserção ao mundo. Uma possibilidade que o coloca a condição de analisar a sua realidade e não simplesmente aceitá-la e sim transformá-la, situação totalmente oposta à adaptação que nos submete a condições pré-concebidas.
O que se apresenta bem claramente é que a sociedade desarticulada, irreflexiva e não participativa, vem do projeto de consolidação de uma cultura de banalização de valores comunitários substituindo-os por valores do capital. A necessidade de um caminho inverso a este implantado, se apresenta como necessária para a formação de comunidades atuantes, que não se preocupe apenas com as especificidades particulares de cada individuo, mas que proporcione melhorias em suas vidas e funcione como um grito de aviso indicando que estamos aqui e não existimos apenas no dia das eleições.
O processo de transição da desconstrução de uma cultura e de formação e consolidação de outra que respeite as condições regionais e culturais de cada espaço é um caminho muito longo a ser percorrido e necessita de paciência e muito trabalho das próprias pessoas de dentro das comunidades. Como vimos no princípio do texto, em muitos momentos de nossa história tivemos formações de comunidades atuantes organizadas de baixo para cima. Mas que dentro delas, houve lideranças que contribuíram para a articulação das comunidades. Figuras das quais me refiro como vanguardas. Aponto como referenciais históricos, Zumbi em Palmares e Antônio Conselheiro em Canudos.
O surgimento de vanguardas de dentro das próprias comunidades, que tenha facilidade de comunicação com todos e esteja engajada na luta pela melhora de sua realidade, que vise à construção de um ambiente democrático participativo onde todos possam opinar e decidir o que é melhor para todos ( não instituir um poder na comunidade).
O fato de haver a necessidade de formação de vanguardas nas comunidades brasileiras não significa que afirmo a inexistência delas. Muito pelo contrário, em muitas comunidades é presente a preocupação com a melhoria de condições da população que convive sob mesmo espaço ( comunidades atuantes). A prova maior são as associações de mutuários, associações de multirantes, os institutos de arte e cultura formada em comunidades reforçam a recíproca de que desarticulação sociocomunitária e desinteresse de alterar o tal, não pode ser tomada como fenômeno generalizado. Se a descrença pela iniciativa governamental levou a sociedade ao desinteresse e banalização da política no Brasil, nas comunidades onde a cooperação dá certo, provaram que esta mesma descrença pôde ser utilizada para que as próprias comunidades se mobilizarem.
O acesso a uma proposta de educação que atinja os objetivos dos quais liberte a sociedade de preconceitos, marginalizações desta condição do não refletir e não querer pensar sobre o que lhe é imposto pelo próprio sistema, que leve a percepção de que a entidade pública pode ter qualidade porque ela própria é o público presente, de que depende dela exigir o melhor destes órgãos. Que consigam perceber que precisam exigir e construir um ambiente escolar que busque humanizar, intelectualizar e profissionalizar. Infelizmente, a realidade que vivemos ainda é vista pelo status quo como munição ou ferramenta para se manter uma estrutura que dá lucro e que ao mesmo tempo escraviza.
Os rumos que traçamos nossa história devem ser alterados. Torna-se no mínimo relevante, a discussão que busque apontar para a formação de culturas comunitárias, que contribuam para que se tire as vendas dos olhos do povo que o passado colocou e que o presente tratou de mantê-las muito bem amarradas.









Bibliografia
WWW.ibge.gov.br
www.paulofreire.ufpb.com.br
Ribeiro, Darcy. As Américas e a Civilização: Processo de Formação e Causas do Desenvolvimento Cultural Desigual dos Povos Americanos. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970.
Fernandes, Florestan. Comunidade e Sociedade: Leitura Sobre Problemas Conceituais, Metodológicos e de Aplicação. São Paulo: Nacional, UDESP, 1973.
Freyre, Gilberto. Casa-Grande e Senzala: Formação da Família Brasileira sob o Regime Patriarcal. 51ª Edição. São Paulo: Editora Global, 2006.
Fausto, Boris. História do Brasil. 6ª Edição. São Paulo: UDESP, 1998.
Marx, Karl. Manifesto do Partido Comunista 1848, Tradução: Sueli Tomazini Barros Cassal. 1ª Edição. São Paulo, 2001.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O MENDIGO E EU.


...17:45hs Hora boa de sair, em 15 minutos o contingente explode, transitar compressa é desviar dos menos velozes, atravessar fora da faixa e até contornar carros e ônibus parados na pista. - Contemplar? Só se for o próximo obstáculo a transpor... um camelô, um poste, um desfilante... é impresionante como quando temos pressa os outros parecem caminhar numa passarela exibindo sua lentidão e inconveniência. Sugiro aqui que faixas de velocidade,tal como avenidas, deveriam ser pintadas também nas calçadas. Ao simóveis e estáticos humanos destinaríamos a faixa de acostamento,garantindo-lhes por cidadania a não invasão de transeuntes. Imagine se uma infinidade de serviços que hoje são disponíveis de forma online não existisse e para isto as pessoas tivessem que sair... emplacariamos o cara e instituiríamos o sistema de rodízio.É muita gente!!!...17:45hs.A sombra de arranha-céus antecipa o fim do dia escondendo os últimos raios de sol. É o primeiro minuto do tempo que eu escolhi não vender. Não há pressa, do Marco Zero à Liberdade e de lá ao Paraíso. O caminho íngreme esculpe o corpo e não gasto com o Metrô. Organizo os pensamentos e vejo pessoas, e ao que parece também sou visto... - Hei irmão firmeza? Dá licença aí... Aproximou-se com as mãos nos bolsos, vestia uma bermuda que ultrapassava os joelhos em comprimento, usava boné e este não escondia o cabelo comprido e despenteado que escorria por uma blusa encardida e escura.Vi sua face que esforçara-se em ser amigável e objetiva ao mesmo tempo e antes que eu pudesse responder ele adiantou sua introdução.- Não irmão, não quero dinheiro não! Só queria rolar uma idéia.- Sem problemas! Então vamos conversar, não vou parar, caminhe comigo! - solicitei Acompanhando-me ao subir a rua ao lado da Catedral da Sé continuou:- Sabe que é, eu moro na rua e...- Putz cara ! Como é que é esse negócio de morarna rua? - perguntei interrompendo-o - Ah é maior veneno, quando tá frio tem que caçar com o que se cobrir, quando tá calor não tem onde tomar um banho. Mas eu queria ver com você...- Há quanto tempo você tá na rua? - perguntei,interrompendo-o novamente. - Três meses véio, é que eu tava preso aí eu saí e tô nessa - desabafou - Putz, todo mundo erra mas te trancam e quando te soltam te largam na vida, na condição de ex-detento pra se virar. -comentei Paramos no farol, aguardando o sinal para atravesarmos até a Liberdade enquanto ele dizia: - Então véio mas o que eu queria ver com você é... você pode pagar um bagulho aí pra eu comer? Tô com maior fome... - pediu-me- Olha só que coisa cara! - chamei sua atenção Ele pareceu curioso.Continuei:-O que é pior? Morar na rua e tá aqui me pedindo uma parada pra comer ou trabalhar o mês inteiro longe da família e não ter um Real no bolso pra te pagar um lanche? - desabafei O homem me olhou estranhamente como se seu pensamento percorresse minha pergunta, produzindo a experiência que eu descrevera. - Ah é melhor trampar né! - voltou de órbita repondendo-me com um sorriso terno.- Enfiar-se num escritório entre quatro paredes e no que te resta do dia meter a mão no bolso e não ter um Real? -queixei-me novamente. Sua feição pareceu encher-se de dúvida e convertia-se a um semblante de solidariedade. Não sei se para me reafirmar ou para aliviá-lo da necessidade de qualquer comentário ou ação, antes que talvez ele tirasse uma moeda do bolso e me oferecesse eu disse: - Trabalhamos pelos outros... a família. - conclui- É... então! - concordou afastando-se- Mas quando eu tiver caso o veja por aí... é nóis! - despedi-me vendo-o descer a rua.No dia seguinte, dia de pagamento, voltei a Pça da Sé por onde passo habitualmente e procurei-o afim de pagar-lhe um lanche, mas não o encontrei... sei lá porque, talvez porque fosse livre e não precisasse permanecer onde não queria.


Alexandre Fernandes

sábado, 5 de junho de 2010

O Poder


Como poder construir sem destruir?
Se ao fazer uma coisa acaba-se com outra
Se ao entrar uma vez é preciso sair
E como evitar um desencontro em um encontro?
E ao pensar nisso tudo me pego a refletir

E o que adianta ter poder
Se não posso evitar a hora de morrer
É ai que se entra a questão
Qual a vantagem de ter poder e destruir então?

Se ao construir uma casa faço uma família feliz
Quantas pessoas farei chorar ao destruir?
E se ao mesmo tempo nada acontecer
O que irá eu fazer se nada fiz sem perceber!


Talita Alonso da Cunha

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Alhearam Mais Um Cidadão.


Até quando essa opressão?
Parece que o não conhecer
Causa a má informação
É... se espelha na televisão
Plim, plim...
Acorde! Acorde!
Essa ditadura ideológica desenfreada acobertada
Que te empregam...
Te deixa cego
A rua de terra...
Quem mora na rua de terra?
São vadias?
São marginais?
É só isso que são?
Será que são?
São eles os impuros?
De caráter imundo?
Que medo é esse?
A verdade está na sua cara!
Essa sua esperteza
Não é inteligente
Não tá com nada!
Não deixeis corroer
O que ainda há de bom neste seu coração
Mas a sua arrogância
Ainda é capaz de me dar inspiração.

Angélica Nascimento.
Aluna do E.E. Dom Pedro I.
3º ano.

sábado, 24 de abril de 2010

Pereira Passos do Século XXI.




No mês passado o Rio de Janeiro sofreu mais uma vez com as fortes chuvas, provocando deslizamento de terra na região metropolitana da cidade. Essa tragédia deixou um saldo de mais de 200 mortos, dezenas de feridos e milhares de desabrigados. O “corriqueirismo” com a qual essas tragédias vêm ocorrendo nos impede de utilizar o termo, “fomos surpreendidos com essa catástrofe”. Apesar das grandes proporções do estrago ocorrido nesta ocasião, e pela grande repercussão na mídia em todo país e em boa parte do mundo, todos estão cansados de saber que isso é algo que vem acontecendo já a muito tempo, a única diferença é que desta vez o estrago foi bem maior que todas as outras.
O efeito desta tragédia ultrapassou qualquer dado estatístico apresentado, principalmente se somarmos ai todo o trauma dos sobreviventes que perderam a família inteira, amigos, suas casas,danos que apesar de muito esforço, nenhum sensacionalismo televisivo conseguiu transpassar em toda sua amplitude e profundidade.
Mas o pior que apesar de todos esses ocorridos, tivemos que engolir a seco a declaração do governador e prefeito do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral e Eduardo Paes e o prefeito do Município de Niterói, o senhor Jorge Roberto Silveira, declarando a imprensa “a sete ventos” que a culpa de toda desgraça ocorrida era dos próprios moradores que insistem em viver nas áreas de risco. Ou seja, culpando o pobre de ser pobre no Rio de Janeiro.
Para entendermos o quanto foi estapafúrdia esta análise, é extremamente importante olhar um pouco para o passado do Rio de Janeiro, especificamente para o final do século XIX e começo do XX e reparar o quanto foram injustas essas palavras, detectando quantos aspectos de permanências há em relação a mentalidade do governo carioca atual com o do passado.
Para trabalhar este assunto é necessário remexer em algumas feridas que apesar de parecerem cicatrizadas insistem em sangrar. A formação e o crescimento das favelas nos morros do Rio de Janeiro.
Em primeiro lugar, é importante destacar um período marcante e “heróico” de nossa história, ocorrido em 1888, a Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel que decretava o fim da escravidão no Brasil (um dos últimos países do mundo a abandonar esse tipo de atividade).
Apesar de tardio, mas “muito honroso”, afinal de contas reconheceram o erro e ocasionaram "o acerto". Seria o que muitos diriam se resumissem os ocorridos, e durante muito tempo era essa versão que os livros contavam. Mas o que não importaram em se preocupar é que o simples fato de apenas abrir as portas das senzalas não seria o suficiente para dar aos ex-escravos a condição de cidadão. Que seria necessário desenvolver um plano de inclusão social garantindo emprego, moradia, alimentação, saúde... Dignidade. Mas como realizar um projeto deste cunho em uma sociedade que acreditava na inferioridade racial, num país em que ainda não era industrializado, o mercado interno ainda não era desenvolvido, que simplesmente os substituíram pela mão de obra de imigrantes europeus e que em um curto espaço de tempo lançou os negros na exclusão, marginalidade e na vadiagem compulsória?
As condições para o desenvolvimento de uma industrialização e do fortalecimento do mercado interno só aconteceu de forma enfática no começo da década de 1930 quando as tendências mundiais empurraram o Brasil a este rumo como solução para sair da dependência do café como principal agente movimentador de nossa economia. Mas o quadro que temos entre 1888-1929 é de um país agrário e ao mesmo tempo de uma capital (Rio de Janeiro), centro de toda esperança e expectativa de progresso no Brasil, o que atraía a todos os mais pobres de diversas regiões do país (ênfase a moradores da região do nordeste que viviam em condição de penumbra com a seca e dos ex-escravos das zonas cafeeiras do Vale do Paraíba e interior Paulista). Rio de Janeiro para essas pessoas significava esperança, mas a realidade encontrada foi à oposta, uma cidade saturada com o crescimento demográfico, fétida, suja, repleta de cortiços e com o centro da cidade desproporcional a importância que ela passou a ter à nível econômico sendo um dos principais pontos de importação e exportação do país.
Os cortiços, as ruelas, as mínimas condições de saneamento básico, com uma enorme população pobre, desempregada (no máximo com algum tipo de atividade informal que pouco garantia sua subsistência) foram se tornando um peso para uma cidade que precisava se modernizar e atrair investimentos para o país.
O trabalho do historiador Nicolau Sevcenko nos deixou bem claro que rumos a política do presidente Rodrigues Alves(1904-1908) e do prefeito Pereira Passos nomeado por ele, reservaram para uma “modernização a cima de tudo”. O avanço das obras que mudariam o perfil da cidade e que a transformariam numa “Paris tropical” custaria à expulsão da “escória pobre, suja e doente da cidade” deixando de denegrir a imagem da cidade.
Com suas portas arrombadas, tirados a força e logo em seguida demolindo-as no intuito de alongar avenidas trazendo o glamour europeu para a cidade e facilitar o tráfego dos produtos a serem exportados nos portos cariocas. O que restava a população carente era se refugiar nos morros ao redor da cidade e o visual das janelas de seus humildes lares visualizando a cidade do futuro e o sonho de um dia usufruírem de toda essa modernidade da qual decidiram por eles que não iriam pertencer.
Essa realidade vem sendo mantida e aprofundada de acordo com os passos dados pela política capitalista neoliberal, cada vez mais na sociedade aumentando o volume de concentração de riqueza para as minorias privilegiadas no decorrer de todo o século XX, a ponto dessa situação de pobreza e violência nos morros se consolidarem como cultura e de se tornar atração turística da cidade, “ajudando a movimentar a economia”.
De lá pra cá, de 4 em 4 anos os governos pouco tem agido para alterar os rumos desta política de descaso e de exclusão social.
Em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro a prefeitura vem sendo fiel a essa política. Não é a toa que o maior foco de mortes na última tragédia das chuvas ocorreu por lá.
O prefeito Jorge Roberto Silveira, do qual já esteve neste cargo por alguns mandatos ( 16 anos), tem feito muito pouco esforço em todo decorrer deste tempo para transformar essa realidade. Quem afirma que Niterói melhorou muito nos últimos anos provavelmente não conhece algumas regiões periféricas da cidade como: bairro do Fonseca, Cubango, Jurujuba... e outros que de 15 anos pra cá não mudaram praticamente nada.
Já não se pode dizer o mesmo de Icaraí, que por coincidência é o bairro onde reside o prefeito da cidade, num belíssimo apartamento em frente ao mar. Considerado um bairro que "cresce para cima", se tornou incontável a quantidade de prédios luxuosos que foram levantados nos últimos anos, sendo um dos pontos onde a classe média alta carioca anda indo se refugiar já à alguns anos.
Se analisarmos o crescimento de Niterói apenas por Icaraí, chegaremos a constatação de que descobrimos a "Manhattan carioca".
E não há dúvidas de que essa mesma alta classe média se sensibilizou com a Fátima Bernardes anunciando o caos em sua cidade direto do Morro do Bumba, mas ao mesmo tempo não haveria de ser nada que a novela das 8 e os barzinhos das sextas niteroenses amenizassem o impacto causado.
Os anos e décadas passam, os problemas se perpetuam. Estamos às vésperas de uma Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil, em particular, no Rio de Janeiro. Novamente estamos na busca da tal modernização da cidade. A história se repete comprovando a inexistência de sua linearidade e o desafio que nos é colocado agora é: erramos como 1904 ou buscamos outro rumo?
Sérgio Cabral, Eduardo Paes e Jorge Roberto Silveira estão respondendo essa pergunta com muita frieza, em plena fase de discussão sobre divisão dos Royalties do petróleo. O que podemos perceber até então é que em pleno século XXI o Rio de Janeiro volta a ter seu Pereira Passos.


Marcelo A. O. J. Leite.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Greve dos Professores no Estado de São Paulo



HÁ quatro semanas os professores da rede pública do Estado de São Paulo entraram em greve devido a uma série de ataques que o governo Serra vem fazendo a educação.
Nossa categoria é dividida entre efetivos e temporários (os últimos compõem 48%), ambos realizam o mesmo trabalho, mas os temporários não têm os mesmos direitos, são submetidos a contratos de um ano, e ainda por cima os que não conseguem atribuição de aula, os “eventuais”, são obrigados a tapar buraco nas escolas diante da ausência de professores, a dar aula de disciplinas que não foram habilitados para ministrar não tendo garantia de quanto receberão a cada mês.
Os professores efetivos também são submetidos a péssimas condições de trabalho e salários, chegando a ser um dos salários de professor estadual mais baixos do Brasil. Para completar a renda somos obrigados a ter longas jornadas, acumulando cargo ou nos dividindo entre duas, três escolas, gastando o pouco dinheiro que ganhamos com transporte e alimentação. Com salas superlotadas de até 50 alunos, somos obrigados a custear com nosso dinheiro, o material necessário para desenvolvermos uma aula de qualidade, sem contar nas doenças físicas e mentais que nos afligem pelo excesso de trabalho. Estas são as conseqüências de anos de ataques do governo estadual e lutas que foram derrotadas pela política da direção de nosso sindicato que permitiu que passassem os ataques e agora os naturaliza. A divisão da categoria é um produto dessas derrotas que sofremos todos. Por isso, a unidade de efetivos e temporários é uma condição para a vitória.
O recomeço dos ataques.
Há cerca de dois anos o governo Serra seguiu com a política de precarização. Primeiro, em 2008, com o decreto nº 53.037/08 com a implementação da avaliações do desempenho aos professores temporários, com o intuito de descarregar sobre as costas do professor a culpa pela péssima qualidade do ensino.
Em junho de 2009, mais ataques e precarização de todo o funcionalismo público de estado de São Paulo, com o PLC 19 e o PLC 20. O PLC 19, legalizando a forma de contratação temporária de qualquer categoria do funcionalismo público, com contrato no máximo de 12 meses e, depois desse tempo o funcionário seria demitido tendo de aguardar 200 dias para ser recontratado. O PLC 20 determinou a criação de jornadas de 12 horas e de 40 horas, além da criação de mais de 5 mil cargos novos, com concurso eliminatório de 3 fases: prova eliminatória, cursinho de 4 meses onde o professor receberia apenas 75% do salário da jornada inicial de 20hs (R$681,99), sendo obrigado a desprender 4horas por dia por R$ 681,88 por mês. Após este “cursinho” o professor ainda seria obrigado a fazer uma prova para saber se estaria empregado ou não.
No ano passado estes projetos se tornaram leis que legalizaram ainda mais o processo de precarização e fragmentação. O objetivo é nos dividir para enfraquecer a luta de uma categoria tão significativa, sendo o maior sindicato da América Latina, com quase 240 mil professores espalhados pelo estado de SP, e tão importante para a juventude e a classe trabalhadora.
Para os temporários a situação é mais drástica com a implementação da “provinha”. E os professores que não conseguirem atribuir aula, mas passaram na provinha, têm a pseudo-estabilidade de 12hs garantidas, realizando outros trabalhos dentro da escola que não seja dar aula.
Serra tem a cara de pau de dizer que melhorou a educação, que os professores ganham mais e que tem 2 professores por sala de aula. Mentira! O que o governo avançou foi na precarização e no completo descaso com a nossa categoria. Hoje somos P, N, F, L e O, e se não lutarmos pela unidade entre todos os professores, amanhã muitos dos que se dedicaram anos à educação estarão desempregados.
Nosso salário está há 12 anos sem reajuste. Desde a LDB elaborada por FHC, somada a política atual de Lula e do governador José Serra, culminou na miséria escolar vivida cotidianamente por nós: superlotação das salas falta de funcionários e infra-estrutura, aprovação automática, imposição de materiais rasos...
O governo Serra cumpre bem esta cartilha: investiu em um material com conteúdo rebaixado, que visa aumentar o índice de aprovação nas escolas, sob o custo de emburrecer nossa juventude e engessar a atuação do professor em sala. O governo vem adiando sua obrigatoriedade, mas as novas levas de concursados já viram com ele na ponta da língua. O concurso para promoção tem o mesmo fim: que os professores absorvam este conteúdo e esta metodologia pobre paulatinamente. Não visa professores formados, com a autonomia didática e de cátedra e sim funcionários padrão “repetidores” da cartilha.
Nem salários separado de melhoria de condições de trabalho, nem melhoria das condições de trabalho separado de aumento salarial. As reivindicação de salário desligada de reivindicações por melhores condições de ensino se torna um facilitador das políticas que o governo quer implementar, sendo uma porta aberta para a precarização do ensino do professor.
Na busca de todas essas reivindicações, os professores do estado de SP vem realizando a três semanas as sextas-feiras, assembléias no vão do Masp e na frete do prédio da Secretaria da Educação e organizando passeatas pelo centro de São Paulo na busca de mostrar de uma forma legal e constitucional a sociedade os problemas que a educação em nosso estado vem enfrentando, e ao mesmo tempo convocar o secretário da educação Paulo Renato para negociar.A resposta que tivemos foi o silêncio do “digníssimo” secretário.
A imprensa também não agiu muito diferente. Deixou de dar visibilidade do movimento, distorceu os fatos levando à notícia de forma conturbada a sociedade, construindo uma imagem enfraquecida e negativa do movimento. Uma prova deste ocorrido fui anunciar no rádio e na televisão uma média de 5 mil pessoas nos movimentos sendo que os números superaram a margem de 50 mil professores.
Diante destes episódios, a assembléia desta semana, foi marcada para acontecer na frente do estádio Cícero Pompeu de Toledo (Morumbi), na busca de reafirmar todas as pautas já apontadas e fazer uma passeata até o Palácio dos Bandeirantes (sede do governo do Estado de São Paulo) na busca de tênar abrir negociação com o governador José Serra que na próxima semana renunciará para poder anunciar sua candidatura a presidência da República.
A assembléia ocorreu dentro da normalidade das semanas anteriores. Porém, metros depois da partida de nossa passeata, fomos surpreendidos por um cordão de isolamento de policiais militares seguido de um outro cordão da tropa de choque impedindo a manifestação de seguir a diante. Quando o contato entre policiais e manifestantes se deu, o caos foi inevitável. A polícia recebeu os professores e alunos com toda repressão possível, com tiros de bala de borracha, bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo.
Eram “cães armados” contra professores professoras, estudantes menores de idade, idosos, professora gestante. Cidadão responsáveis pela educação que foram reprimidos com muita violência. A resposta veio com paus e pedras lançados pelos manifestantes, reação facilmente contida. Virou uma praça de guerra.
Professores feridos, outros passando mal. O resgate foi acionado.
O nosso governador mostrou bem como ele acredita que devem ser tratados os professores e alunos de nosso estado, e como deve agir contra os movimentos sociais.Quem esteve presente ontem saiu de lá com plena convicção quanto é inexistente a democracia no Brasil. A covardia, a intolerância, o desrespeito foram todas as armas despejadas em cima de quem ali esteve presente naquele momento.
É inadmissível um governante que militou na ditadura tenha a atitude repressora como à de ontem.
A imprensa que mais uma vez esteve presente, tendo todas as chances de desmascarar essas atrocidades, construiu mais uma vez uma outra versão; de sermos baderneiros, de que estamos desrespeitando o direito de ir e vir das pessoas, que somos um movimento de minorias, ou seja, divulga uma situação totalmente oposta da realidade, mais uma vez levando a opinião pública contra o movimento.
Apesar de toda a covardia ocorrida nesta manifestação, é importante frisar pontos positivos. Em primeiro lugar, o Movimento Estudantil esteve presente ativamente presente na manifestação apoiando nossa causa. Dava gosto de ver, os jovens estudantes vendo a causa como deles também, juntos dos professores engroçando fileiras na luta por uma melhor educação. Em segundo lugar, é que mesmo que a mídia distorça os fatos, teve que divulgar o conflito, afinal, confrontos dão audiência, e quem estiver em casa e viu a matéria pode perceber naquele momento apesar da construção feita peã reportagem, que a imagem mostrava um confronto de policiais fortemente armados contra professores.
A baixa maior foi a desatenção que mais uma vez o governador deu para o caso, afirmando que só negocia depois que os professores decretarem o fim da greve.
Além da luta continuar na próxima quarta-feira dia 31 de Março, dia em que José Serra renunciará seu mandato, com mais uma assembléia na Avenida Paulista.
É extremamente importante utilizarmos a arma que temos nas mãos de utilizarmos o nosso voto e não elegermos o “coveiro” da educação em São Paulo a presidência da República. Mesmo sabendo que os problemas da educação no Brasil são históricos, é importante frisar que nos últimos anos de governo PSDB, o processo de sucateamento da educação foi acelerado graças à proposta de política neoliberal.
“Podem enganar alguns por um tempo, mas não enganarão a todos o tempo todo.”



Marcelo Albino de Oliveira Junqueira Leite.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Na Contra-Mão Da MPB



Existe um crivo, uma imposição, quando se fala de música e cultura em nossa sociedade. Esse crivo é um tanto quanto falacioso, e se encontra sob a sigla MPB (Música Popular Brasileira). “(...) a MPB se tornou um produto estético capaz de atender ao paladar mais discriminativo da intelligentsia de hoje”.
Não é de hoje que essa relação de poder – se entendermos que existe uma supremacia cultural entre MPB e o que é realmente popular em termos musicais – tem sido alvo de sucessivas desconstruções. O cantor e compositor baiano Raul Seixas, em 1974 cantou o seguinte verso em clara resposta ao movimento tropicália:

Eu já lhe disse que eu não tenho nada a ver
Com a linha evolutiva da música popular brasileira
A única linha que eu conheço
É a linha de empinar uma certa bandeira

Hoje, o mesmo Raul Seixas faz parte desse aperitivo para paladares refinados. Isso porque, segundo muitos teóricos de mesa de bar, o período pós ditadura militar não oferece nada para uma manifestação politizada através da música.
No entanto, este fenômeno é acompanhado por um outro bem característico: a falência do instrumento. No Brasil, o funk carioca é talvez o maior exemplo desses dois fenômenos.
Longe de tentar formular aqui uma critica a esse ritmo musical, creio que é necessário entendê-lo como uma manifestação social. Logo, as criticas a essa manifestação ocultam os preconceitos que marcam ainda, de forma tão severa, a nossa sociedade desde a sua formação até os dias de hoje.
O funk, com sua batida eletrônica e sua letra direta, vem confrontar-se à velha moral católica e cristã... Oferece o grito de liberdade aos que vivem sob um regime de exclusão social. Essa primeira analise é sedutora, mas será podemos encontrar algo mais revirando esse apanhado teórico que já virou lugar comum? Qual a genealogia desse ideal de liberdade amoral? O discurso “funkeiro”, com sua bandeira de “violência” e “sexo sem compromisso” não faria parte da mesma rede histórica daquilo que denuncia e chama de repressão, ou seja, a moral católico-cristã que mantém o monopólio do sexo imaculado dentro das representações do casamento, e a violência policial, que tão facilmente podemos remontar ao tempo dos senhores coloniais.
Essas questões são inteiramente pertinentes para entendermos de forma mais abrangente o fenômeno funk, e reconhecermos as relações de poder quando tal assunto é abordado na mídia, nos apartamentos da classe média alta, ou nos barracos das comunidades mais pobres.

Referencias:
• Música e Democracia, José Paulo Paes in Cultura Brasileira – Temas e Situações; Alfredo Bosi (org.) 4ª Ed., 2003 – Editora Ática, São Paulo;
• História da Sexualidade I – A Vontade de Saber, Michel Foucault, 6ª Ed., 1985 – Editora Graal, Rio de Janeiro.


Adriano José.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Link: Dicionário Político.

http://www2.uol.com.br/aprendiz/designsocial/agora/texto_dic.htm

Funk: Imoralidade ou Cultura?




A procura de entretenimento nas favelas, a juventude local, já ha um bom tempo vem aderindo aos bailes funks. Estilo musical que se metamorfoseou em relação as suas origens norte-americanas adquirindo toda uma peculiaridade no Brasil, especificamente na cidade do Rio de Janeiro.
O funk (conhecido também como o soul Funk ou funk de raiz) surge em meados de 1960 originárias dos guetos (bairros negros, regiões periféricas).
Esse estilo musical se desenvolveu através da mistura do soul music, soul jazz e rock psicodélico revelando artistas como James Brown, Marceo Parker e Melvin Parker.
Este mesmo funk vai despejar suas influências no Brasil, trazendo nomes como Tim Maia e Tony Tornado que seguem o modelo americano somado com as peculiaridades da música brasileira.
Na década de 1980 o funk no Brasil já se apresenta completamente desfigurado das suas origens, particularmente nas favelas cariocas. Local onde a população vive a margem da sociedade buscando formas de entretenimento totalmente peculiar e popular. Momento que explodem os grandes bailes funks no Rio de Janeiro.
Músicas repletas de mixagens, dançantes, e com letras que frisam as dificuldades vividas, exclusão social e o orgulho de pertencer àquela comunidade. Próximo a este fenômeno podemos apontar o Rap na cidade de São Paulo.
Os processos de transformação darão diversas fisionomias ao funk carioca, passando desde o funk melody ao funk apologético as drogas e da violência, o chamado e o funk Pornográfico, que vem se destacando nos últimos anos é o que nos debruçaremos a partir deste momento.
Com letras extremamente relacionadas ao ato sexual e tratada de uma forma totalmente desprovida de qualquer juízo de valor, colocando tanto o homem como a mulher apenas como objeto sexual, recheada de palavrões, tem sido já há algum tempo a grande distração dos ouvintes e frequentadores dos bailes ou simplesmente ganhando simpatizantes.
A verdade é que apesar das críticas e do incômodo percebido dentro da sociedade que classifica a modalidade musical como agressão a moralidade e a família, o “funk Pornográfico” vem rompendo fronteiras sociais, descendo das favelas e alcançando todos os pontos e cidades, ultrapassando divisas e superando velhas rixas regionais como a que existe entre o eixo Rio-São Paulo tomando as ruas a ponto de a ostensividade das letras alcançarem um grau de banalidade superando o conservadorismo, não pelas pessoas mais conservadoras aceitarem, mas por se acostumarem com as músicas.
E por que nos incomoda tanto essa ostensividade sexual?
Porque aprendemos nos meios sociais dos quais estamos inseridos a respeitar uma série de normas e condutas que se classificam dentro de um padrão de moralidade pré-concebidas, seja pela religiosidade ou pelo o próprio estado. Partindo dessa recíproca podemos enquadrar o funk pornográfico no Artigo IV do Código Penal que se caracteriza como atentado ao pudor. Ao mesmo tempo, podemos reparar que a mesma ala da sociedade conservadora que apedreja o funk passa os domingos colocando saia curta na filha pequena e pedindo para dançar que nem a dançarina do grupo de axé da televisão ou venerando a beleza nua das passistas das escolas de samba. Sem contar que a publicidade para vender certos produtos utiliza a imagem das mulheres seminuas para consolidar uma sociedade machista, deixando bem clara a posição de cada um dentro dela, independente do valor moral que essa mesma sociedade venha a ter e que já foi aceita como verdade. Nossa sociedade anda dividida entre conservadorismo e hipocrisia.
Mas se buscarmos polemizar o assunto e nos afastarmos de qualquer juízo de valor, não classificando a música como promíscua, safadeza, sem vergonha... Se tentarmos enxergar por outros ângulos e aprofundar um pouco mais a problemática e entendermos por que o sexo ganhou tanta ênfase nos funks, chegaremos à conclusão de que o ser humano como qualquer animal possui instinto sexual. O homem por ser caracterizado como ser racional diferentemente dos outros animais, acaba sendo imposta a condição de controlá-los.
E qual a busca destes instintos sexuais dos seres?
Para responder esta pergunta, podemos apelar para um filósofo do século XIX, o Alemão Arthur Shopenhauer que defende a teoria de que tanto o homem quanto a mulher apesar de se interessarem um pelo outro por uma série de motivos ou afeições externas, a causa intrínseca e inconsciente destes motivos e afeições é única, a perpetuação da espécie, o inconsciente trabalha como uma motivação oculta na busca de um dia obter herdeiros saudáveis. O funk, o baile, o rompimento da moralidade é apenas um sinal do qual o instinto se apropria da arte para concretizar a satisfação da procura deste animal racional.
A questão é que diante deste quadro podemos perceber a música, independentemente do que ela venha a tratar, sendo uma forma de arte que pode romper com as estruturas e diminuindo diferenças e talvez até desconstruindo velhos valores ou simplesmente fortalecendo esses velhos valores ainda mais. E se cremos que a arte é a uma matéria prima cultural e que a cultura se transforma de acordo com a sociedade e vice-versa, uma transformando a outra, podemos afirmar satisfeitos ou não que violento, romântico, proibido ou não o funk carioca é cultura.


Marcelo Albino de Oliveira Junqueira Leite.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

"Ajuda humanitária converteu-se em projeto de poder".


Por trás do sincero discurso de ajuda as vítimas da tragédia haitiana, há um jogo de interesses nacionais cada vez mais explícito, afirma ao Estado de São Paulo o professor de relações internacionais da PUC-SP Reginaldo Nasser. Foi assim na ajuda aos países afetados pelo tsunami de 2004 ou pelo furacão Mitch,de 1998. "Com ajuda humanitária, vem o direcionamento político", argumenta.
A tragédia no Haiti desencadeou uma avalanche de ajuda humanitária de vários países. Certamente há uma preocupação real com o povo haitiano. Mas quais são suas implicações geográficas?
Tem crescido muito o número de estudos sobre a relação entre ajuda humanitária e interesse nacional. Em casos como o Haiti existe um sentimento solidário, do qual as pessoas são tomadas - e Estados dão vazão a ele. Trata-se de um fenômeno antigo. A novidade é que, com o fim da Guerra Fria, o volume de ajuda cresceu exponencialmente. O Banco Mundial, por exemplo, aumentou em 80% o envio de recursos sob rúbrica "ajuda humanitária" desde o início dos anos 90. Hoje o mesmo tema é responsável por 30% do orçamento do Pentágono. A ajuda humanitária transformou-se em um projeto político.
Há exemplos concretos sobre essa projeção de poder?
Um exemplo é o tsunami de 2004. Logo depois da tragédia, os EUA enviaram tropas de ajuda ao leste da Ásia, sabendo que o Congresso americano vetava a cooperação militar com a Indonésia por causa da herança da ditadura de Suharto. Sob o argumento de ação humanitária, houve uma proximação militar e ao final, a Casa Branca reverteu o bloqueio do Legislativo. Também com esse tsunami, houve uma aproximação de Washington com o Sri Lanka, que tentava exterminar a guerrilha tâmil. Enfim, por causa do tsunami, os EUA fizeram um grande investimento militar na região
Imagino que esa reaproximação não se limite à dimensão militar.
Há um aspécto econômico fundamental. Quando houve o furacão Mitch na América Central, em 1998, o Banco Mundial e o FMI ofereceram ajuda significativa, mas condicionaram o envio as reformas econômicas. Honduras foi pressionada a privatizar seus portos, aeroportos e sistemas de comunicação. Na ajuda configurou-se um direcionamento do rumo de política econômica que o país devia tomar.
Os EUA parecem ter visto na tragédia do Haiti uma chance de reforçar a imagem de "potência benevolente".
Sem dúvida, mas isso sempre existiu. Os EUA têm um sentimento missionário, o velho discurso de estender a mão aos povos independentemente de fronteiras. Mas isso ocorria também na Guerra Fria. Na tragédia, americanos são os primeiros a se manifestar.
Por que?
Por duas razões: além da ideológica, os EUA são a única potência com meios para agir de imediato. Washington tem bases, soldados, navios e aviões no mundo todo. É interessante também notar que a guerra tornou-se a mesma que para a ajuda humanitária. Há uma militarização da ajuda humanitária.

Roberto Simon.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Pensando Maquiavel Como Vanguarda Na História.




Nicolau Maquiavel nasceu em 3 de Maio de 1469 na cidade de Florença.. Em sua adolescência demonstrava um excelente nível intelectual. Mas apenas aos 29 anos exerce seu primeiro cargo público na vida na Segunda Chancelaria de Florença.
O que o destacava como grande personagem renascentista, era o profundo distanciamento da escolástica medieval onde nega crer no fenômeno histórico cristão, segundo o qual, o desenrolar dos fatos humanos no tempo cumpre desígnios divinos dirigindo-se linearmente ao juízo final.
Bem antes de Giambatista Vico (XVII) se opor a Descartes em relação à inutilidade do estudo da história e de enxergá-la “cíclica” ( Corsi e Ricorsi) e de Nietzsche (XIX) desenvolver a Teoria do Eterno Retorno, Maquiavel já acreditava na investigação empírica que consistia na busca da prática dos fenômenos do poder , não de forma em que se encontrasse o tipo de Estado ideal, mas por entender como as organizações políticas se fundem, se desenvolvem, persistem e caem , ou seja, busca no passado ciclos históricos de governos, revoluções bem ou mal sucedidos, onde acertavam e onde erravam em sua decisões, na busca de entender a suas projeções históricas.
Todo esse estudo desenvolvido, somado com a sua experiência na vida pública o levara a conclusão de que os homens seriam todos egoístas e ambiciosos, só recuando da prática do mal quando coagidos pela força da lei. Para Maquiavel, a arte de saber governar triunfaria sobre a ação humana e a teoria da história.
Apesar de sua grande contribuição ao estudo da história, seu trabalho só ganhou notoriedade depois de seu falecimento em 1527 e não no desenvolvimento do estudo histórico, mas na forma de governar. Influenciou muitos reis no sentido da prática de forma de articulação nos governos, como Henrique VIII na Inglaterra.
“O fim justifica os meios”.
“É melhor ser amado ou odiado?”.
“A importância de um exército local para garantir a ordem de um bom governo”.
”A Importância de ter um povo religioso”.
Muitos desses pontos trabalhados por Maquiavel levou nomes do pensamento dos séculos seguintes a diversas conclusões:
Diderot (XVIII), “Dentro da problemática republicana, acredito que “O Príncipe” é uma sátira entendida como elogio”.
Rousseau (XVIII), “Maquiavel teria sido obrigado pelas circunstâncias a disfarçar o amor a liberdade, simulando dar lições aos reis, quando na verdade as dava ao povo”.
Voltaire (XVIII) associava Maquiavel em rejeição radical ao amoralismo em política.
Há também discrepâncias nas interpretações, como a de Mussolini (XX) que dizia que Maquiavel teria sido precursor do Fascismo e Gramsci que associava Maquiavel ao partido proletário.
Em nível de Brasil, acredito que não haja nada mais atual em seu pensamento que a seguinte frase:
“Se for fazer algo de ruim ao povo, faça-o de uma vez, pois o povo tem memória curta e logo esquecerá, mas se fizer algo benéfico, que seja aos poucos para que seu nome seja lembrado por toda eternidade”.
Se nossos representantes políticos são todos leitores de Maquiavél , creio que seja algo complicado de se afirmar, mas que no campo da prática é perceptível que algo ficou de herança. A vida por si só nos dará esta resposta.


Marcelo Albino de Oliveira Junqueira Leite.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

As Dinâmicas Capitalistas Através das Indústrias Cosméticas e Farmacêuticas.




Ao desenvolver a Teoria Crítica, Karl Marx (1818-1883) repara inicialmente que se entendermos a dinâmica de funcionamento do mercado financeiro, automaticamente entenderíamos a cultura, religiosidade... Valores de uma determinada sociedade que vive sobre seus moldes.
Levando em consideração esta análise, procurarei destacar neste texto, duas áreas que se enquadram neste processo percebido por Marx, a indústria cosmética e a indústria farmacêutica.
Devido à própria dinâmica capitalista, a indústria e o comércio são os que mais se aproveitam do grande número ploretariado e do grande exército de mão de obra barata de reserva, podemos perceber a sua grande preocupação com a busca incessante do lucro através da geração de mais-valia.
O grande desenvolvimento industrial que ocorreu no século XIX, (Inglaterra, Estados Unidos, França) e posteriormente a com a formação do estado alemão e que reforçou a estrutura capitalista, levou ao século XX uma expansão desta industrialização por um espaço geográfico bem mais abrangente, e no Brasil não foi diferente. Junto desta expansão viria os grandes avanços tecnológicos aplicados na forma de produção.
O fenômeno que poderíamos chamar de terceira revolução industrial levou automaticamente a revolução dos meios de comunicação, através da criação do rádio e posteriormente da televisão e agora a internet. O aparecimento e a popularização destes aparelhos causariam um fenômeno muito poderoso. Eles se tornariam a maior influência sobre grande parte da população mundial. Inconscientemente a família e a escola, vão deixando de serem as principais formadoras, educadoras, aplicadoras de princípios e essa responsabilidade acaba sendo tomada pela mídia. Com o passar das décadas, a televisão assume a função de apontar o “certo e errado”, o “ético e antiético”, “moral e imoral”, ou seja, alterando uma série de conceitos que historicamente se encontravam enraizados. Dentro deste mundo novo que se forma. A propaganda também passa por um processo de modernização, ela também terá uma grande influência nos valores desta nova sociedade. A sociedade do extremo consumo.
Percebendo o imenso poder da propaganda, os investimentos cresceram absurdamente, fazendo com que grandes indústrias e comércios freqüentassem as casas por meio de TVs e rádios diariamente. Essas propagandas publicitárias foram se apresentando como ferramentas de alienação, disfarçados de simples anúncios publicitários reformulando a idéia de “felicidade”. Implantam novos padrões sociais para que o cidadão se sinta “feliz”. O cidadão deixa de ser um simples cidadão e se torna, antes de mais nada, um consumidor.
A indústria cosmética contribui com veemência para a afirmação desta recíproca, afirmando padrões de beleza instituídos por meio de alienação televisiva, revistas, jornais, rádios e outdoors.
Tendo como alvo a vaidade feminina, a indústria cosmética utiliza o marketing não apenas para expor seus produtos, mas para estipular novos padrões de estética, dos quais, o público feminino só alcança a satisfação plena através do consumo de seus produtos. Propaganda que muitas vezes dialogam inicialmente com o futuro consumidor como se ele fizesse parte de uma sociedade homogenia, cultural e economicamente, gerando um ciclo instintivo, do “querer ter” e “querer ser” para o consumo de seus produtos. A alienação afeta todas as classes, mas é o proletariado que sofrerá com as mudanças. Na busca de sua satisfação “pré-imposta”, ela vai trabalhar para que, com muito esforço conseguir ter acesso a estes produtos que a incluirão na esfera dos novos padrões colocados, levando-a assim a suposta felicidade. Felicidade com prazo de validade. Antes mesmo de usar o produto comprado com tanto esforço, a indústria cosmética já alterou estes padrões afirmando que aquela “felicidade” anterior já não serve mais. Ou seja, as metamorfoses dos padrões concebidos no universo capitalista possibilitam a eterna expectativa do lucro.
Logicamente que com o passar das décadas a indústria buscou adaptar-se a realidade. Na busca de alcançar o maior número de consumidores possível, adotou a política de produção e divulgação de produtos para classe A, B, C, D, mas a classe A, acaba a sendo a referência do povo que “quer ser” e “quer ter”.
A indústria farmacêutica, também se privilegia dessas verdadeiras “janelas para o mundo” que há dentro de nossas casas e ao nosso redor no dia-dia.
São as grandes agências de saúde, que em nome da ciência, estipulam outro tipo de padrão. O padrão de saúde. São elas que através do resultado de suas pesquisas científicas, apontam quais são as médias de peso e altura que uma sociedade saudável precisa estar enquadrada.
A indústria farmacêutica produz as drogas que levará os “inconformados” em estar fora dos padrões de saúde a consumi-los. A padronização da qualificação “saudável” se apresenta em modelos físicos norte americanos e europeus, implantando em países da América Latina, Ásia e África, onde muitas vezes o indivíduo está muito longe da realidade cultural na qual está sendo colocada como referencial, seja por circunstância sócio-econômica ou até mesmo natural.
No mundo em que tudo acontece em função do capital, este ramo da indústria certamente pode ser colocada como uma das mais cruéis. Uma indústria que é responsável de produzir curas, restringem por conta de preços altíssimos o que poderia salvar milhões de vidas.
Qualquer tipo de epidemia eleva abundantemente o preço dos remédios relacionados ao controle ou cura daquele vírus que se espalha. Um exemplo claro a ser citado é a epidemia de gripe suína. O grupo suíço Roche, detentor da patente do Tamiflu, único remédio que combate o vírus aumentou abundantemente o preço do medicamento após a explosão da epidemia no começo de 2009. A própria divulgação da epidemia pelos meios de comunicação acarreta no aumento da procura do medicamento, ou seja, a área da comunicação que deveria informar, indiretamente acaba fazendo a propaganda do produto.
Diante dos fatos apontados, o que podemos perceber dentro dessas duas áreas da indústria, assim como todas as outras, utilizam os meios de comunicação para levar os seus produtos para o maior número de consumidores possível, mas junto disso produzem um fenômeno de alteração na sociedade, e que apesar de prometerem uma suposta “felicidade”, ocasiona na verdade um grande ciclo de infelicidade contínua, ou seja, uma felicidade com prazo de validade.


Marcelo Albino de Oliveira Junqueira Leite.