segunda-feira, 20 de julho de 2009

Pensando o Trabalhador no Brasil.






Para entender a forma de pensar do trabalhador brasileiro vou procurar mostrar um pouco da nossa formação social, para isso, busquei informações no livro “Raízes do Brasil”, obra que considero leitura obrigatória para todo brasileiro, escrita por Sérgio Buarque de Holanda um dos grandes nomes da historiografia brasileira.
Por influência de conceitos filosóficos de Marx Weber que caracteriza a sociedade como pluralidade de tipos (grupos), diferentemente de Karl Marx que destaca dois grupos na sociedade, a burguesia e o proletariado, Sérgio Buarque usa da dicotomia sobre a pluralidade social apresentada, ou seja, trabalha pares de tipos dentro dos grupos sociais, como por exemplo, trabalho e aventura, método e capricho, rural e urbano, burocracia e caudilhismo, norma impessoal e impulso afetivo, esses pares apresentam nossa estrutura social e política.
Diante desta posição dicotômica dou destaque ao capítulo “Trabalho e Aventura”.
No século XVI boa parte da população portuguesa ainda mantinha tradições medievais, seja no modo de agir ou de pensar, um exemplo claro disso era o respeito da tradição de hierarquia onde os camponeses e nobres casavam sempre com pessoas do mesmo grupo social, talvez, por sofrer ainda forte influência católica. Outros países como Holanda e Alemanha que absorveram o capitalismo movido pelo protestantismo, permitiam maior mobilidade econômica e social.
A partir deste quadro social, destacamos o trabalhador e o aventureiro.
O trabalhador tem em seu pensamento que o trabalho realmente o dignifica, não foge do serviço pesado, apesar, de não haver possibilidade de melhora em sua condição econômica.
O aventureiro era seu oposto, tinha verdadeira repulsa ao trabalho e só fazia qualquer tipo de esforço quando tinha perspectiva de que o resultado seria imediato, seu pensamento era de buscar sempre o caminho mais rápido de alcançar seus objetivos e certamente para ele o trabalho era o mais lento. É justamente esse perfil do português que vai participar das conquistas ultramarinas, inclusive do processo de colonização do Brasil.
O número de riquezas encontradas aqui, lhe deu a idéia de rápida ascensão econômica, obviamente que essas riquezas não estavam tão fáceis de serem extraídas, pois, precisavam de mão-de-obra e devido a sua indisposição para o trabalho e o baixo número da população da metrópole impedia um grande número de imigrados, a escravidão tornou-se então a solução, primeiramente dos indígenas e depois a importação de africanos, afinal, alguém tinha que trabalhar.
Desse espírito aventureiro herdamos o imediatismo, o povo brasileiro tem como verdade absoluta que as coisas demoram a acontecer, tendem a escolher o caminho mais rápido e não o mais trabalhoso, “estudar demora muito e eu preciso comprar um carro amanhã...”, ou a frase que escutei outro dia de um amigo, “me considero um vagabundo não praticante”, demonstra o desapego e a alusão ao trabalho, levando seu ofício puramente como obrigação.
É certo que em tempos modernos podemos culpar outros fatores que façam com que as pessoas tenham esse pensamento, transportes lotados, distância, salários baixos e baixa qualidade de vida.
Sabemos que o ano de 1888 marca o fim de muitos anos de trabalho compulsório no Brasil, fomos os últimos a abolir a escravidão no mundo. A verdade é que as nossas elites nunca deixaram de utilizar este tipo de trabalho, a escravidão ainda se propaga, apenas mudou de aspecto, e denomina-se “escravidão moderna”, uma escravidão psicológica, que mantém encarcerado o poder de reflexão do trabalhador e o isola em um sistema que o impossibilita de enxergar a realidade que o cerca, fazendo nascer-lhe um sentimento de “ta ruim, mas tá bom”, “pinga, mas, não falta”. Apesar de parecer antagônico ao sentimento de não gostar do trabalho por não levá-lo a lugar algum, os dois pontos acabam se tornando uma realidade, e antes que eu me esqueça o castigo a base de chicotadas ainda vigora, mas agora em forma de salário mínimo.

Um comentário:

  1. É inegável a representação negativa do trabalho tem em nossa sociedade, não sei se concordo com a relação estabelecida com as idéias de Sérgio Buarque de Holanda, penso sim, que essas representações estão muito mais enraizadas na própria natureza do conceito "trabalho", no seu desenolvolvimento dentro do sistema capitalista e toda sua carga repressiva, limitatória, alienate, codicionante...

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